sábado, 20 de dezembro de 2008

A grandeza da gratidão



PDF Imprimir E-mail
Escrito por WALMIR VIEIRA
14-Dec-2008

“A gratidão é a memória do coração” (Lydia Child). Um coração sensível e bom não se esquece de agradecer. Um coração agradecido vê a vida e tudo que tem como um presente. Tem sensibilidade para enxergar a vida como um milagre. A gratidão é a virtude mais importante da vida.

Toda a Bíblia nos ensina a agradecer, a sermos gratos, a louvar a Deus pelos seus feitos em nossa vida. Mas, o texto clássico a respeito da gratidão é, sem dúvida, Lucas 17.11-19 que apresenta o milagre da cura dos dez leprosos e o extraordinário exemplo do samaritano que sozinho voltou para agradecer a Jesus. A narrativa vai nos ensinar 10 princípios que apontarão a grandeza da gratidão. Esses conceitos nos ajudam a sermos pessoas melhores e servem tanto para enriquecer o nosso relacionamento com as pessoas ao nosso redor como, principalmente, com Deus.


1. A GRATIDÃO ALEGRA O CORAÇÃO

Alegra o coração do abençoado e do abençoador. Quanto mais demonstrarmos gratidão mais alegres ficamos com a bênção recebida, mais a valorizamos e mais contagiamos os outros com nossa atitude. O contrário também é verdadeiro. A ingratidão entristece, fere, traz decepção e frustração.

Podemos perceber isso nas palavras de Jesus: “não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glórias a Deus senão este estrangeiro?”. Se nós, seres humanos, nos magoamos com a falta de gratidão das pessoas que de alguma maneira ajudamos, apoiamos ou por quem nos sacrificamos, imagine o sentimento de Deus. “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus, em Cristo Jesus, para convosco” (1Ts 5.18). A ingratidão machuca o coração do Pai e do Filho. As manifestações de reconhecimento, as expressões de agradecimento, as ações de graça alegram ao Senhor e tornam o abençoado ainda mais feliz. É impossível ser grato e infeliz ao mesmo tempo. Mas, por incrível que pareça, a gratidão é rara.


2. A GRATIDÃO É MAIS DIFÍCIL DE ENCONTRAR DO QUE A FÉ

O grande problema das pessoas do mundo é a falta de reconhecimento de que estão debaixo da graça e misericórdia de Deus. Se tivessem plena consciência disso haveria mais adoração e ações de graça. Hoje, as igrejas pregam mais a necessidade da fé (fé para receber milagres) do que da gratidão. Por isso, é mais fácil encontrar fé do que gratidão nelas. Na cura dos dez leprosos, os dez receberam a ordem de Jesus para irem se apresentar aos sacerdotes, conforme orientação pormenorizada do assunto em Levítico 13 e 14. Os sacerdotes eram também uma espécie de fiscais de saúde que isolavam (baniam) os que tinham lepra (ou qualquer outra doença de pele, pela dificuldade da época de se diagnosticar com precisão o que era ou não lepra) e reintegravam ao convívio social os que se apresentassem curados. Só em 1874 é que o médico norueguês Gerard Hansei isolou a bactéria causadora da lepra, morféia ou hanseníase. Os leprosos atenderam a ordem de Jesus. Foram sem nenhuma garantia: só mediante a fé e a obediência. O texto diz que enquanto caminhavam iam ficando curados, limpos da enfermidade.

Um deles, o samaritano, parou, viu seu milagre e decidiu voltar para agradecer. Dez creram, mas só um voltou para agradecer. Dez tiveram fé e apenas um gratidão. 100% de fé e 10% de gratidão. Vivemos um déficit de gratidão e isso está afetando a vida cristã de muitos. Não estou dizendo que este tipo de fé não seja importante. É, mas existe na Bíblia vários tipos de fé. E existe distinção entre fé e fé de qualidade.


3. A GRATIDÃO É QUE REVELA A FÉ ESSENCIAL

O que diferencia a fé do samaritano e a fé dos outros nove é a sua qualidade superior. Sua fé gerou gratidão. A gratidão é a evidência de uma fé de qualidade. O reconhecimento o levou a passar do primeiro estágio da fé para o segundo estágio. A Bíblia fala de alguns tipos de fé. Dois deles são: a fé como dom espiritual (1Co 12.9) e a fé salvadora (Ef 2.8). Uma é para o exercício do ministério e outra para a salvação. Ambas são dadas pelo Espírito Santo. Uma é um carisma: a fé que remove montanhas, que vê o invisível, que crê no incrível e faz o impossível. A outra é a fé em Cristo como Senhor e Salvador que leva ao arrependimento e traz perdão. A fé como um dom espiritual não se sustenta se não for confirmada pela fé salvadora. E qualquer tipo de fé (também a fé cristã, como doutrina, conforme Efésios 4.5 e fé como fidelidade conforme Colossenses 1.4) sem gratidão, se enfraquece e é efêmera.

Os dez tiveram o dom da fé, mas, para os nove, ela se evaporou. Só foi suficiente para receberem a cura. Só tinha combustível para chegar até aos sacerdotes. O samaritano que voltou, movido pela gratidão, recebeu a fé essencial: a fé salvadora. A ele Jesus disse: “Levanta-te e vai, a tua fé te salvou”. Os outros foram curados do corpo, mas não da alma. Ele foi curado do corpo e da alma. Os outros foram inseridos na sociedade, ele foi inserido também no Reino de Deus. Os outros foram curados, mas morrerão eternamente. Ele foi curado, e viverá eternamente. A gratidão é que dá sustentação a uma fé que faz diferença. Quando olhamos para o Calvário, quando olhamos para nossa condição de redimido, livres do inferno e com os nossos pecados perdoados é impossível não ser grato. A gratidão é produto da humildade.


4. A GRATIDÃO É O SENTIMENTO DO CORAÇÃO QUE NÃO SE ACHA DIGNO DA BÊNÇÃO

Nós só nos sentimos gratos na medida em que não nos sentimos merecedores da bênção. Quando temos a consciência de que não temos direitos ou méritos para receber um favor divino ou humano nosso coração fica agradecido. Alguns se acham privilegiados, distintos dos outros, ocupantes de um lugar de honra neste mundo e, portanto, merecedores de tudo que é bom, de todas as regalias do mundo. Esses não agüentam as provações e não demonstram gratidão diante das bênçãos.

Viver é um privilégio divino. Alguém disse que “agradecer é bom, mas viver agradecido é melhor”. Mais do que agradecer por algo que se recebe, o cristão deveria viver agradecido, em permanente estado de gratidão, reconhecido de que vive debaixo da graça maravilhosa do Pai celeste. Somos frutos da misericórdia de Deus e sempre devedores dele.

O samaritano voltou porque não se sentiu digno da bênção. Ele não era do povo escolhido. Ele não era judeu. Era desprezado como uma raça de segunda linha. Ele reconhecia que não tinha direito e o que recebeu foi um favor muito especial. Tinha que voltar. Ao contrário, os outros nove talvez julgassem serem merecedores da bênção. Eram judeus genuínos, do povo de Deus, destinatários das promessas. Se julgo que mereço, por me julgar alguém especial, a bênção é algo que eu deveria receber naturalmente. Para que agradecer?


5. A DOR E A FÉ PODEM NOS UNIR, MAS A GRATIDÃO É QUE NOS DIFERENCIA EM QUALIDADE

O sofrimento une as pessoas mais que a alegria. “Chorai com os que choram” (Rm 12.15). Os seres humanos têm a tendência de serem sensíveis à dor das pessoas e chorar com elas. Numa catástrofe as pessoas esquecem um pouco de suas diferenças. Também os animais, antes inimigos naturais, num incêndio ou enchente na floresta, correm juntos em busca de salvação.

A fé também é capaz de levar as pessoas a fazerem muitas coisas juntas. Em nome da fé cristã, caminhamos unidos, aceitamos algumas diferenças e somos tolerantes, especialmente quando elegemos ou temos um inimigo comum ou quando a necessidade é igual a todos. Nesses momentos todos se unem.

A diferença se revelará na gratidão, no momento quando tudo se acalma, quando a bênção e a alegria chegam. A fé de qualidade evidenciará gratidão. A fé de pouca qualidade voltará à sua pequenez, às picuinhas religiosas ou culturais.

Os dez leprosos estavam unidos na dor. Clamaram juntos (o coro dos desesperados): “Jesus, Mestre, compadece-te de nós”. Creram juntos e “foram os dez andando”. Mas, depois de curados só um revelou a qualidade de sua fé por causa de sua gratidão. Alguém disse: “Quando beberes água, lembra-te da fonte”. O samaritano lembrou da fonte. Os outros nove (israelitas) não se lembraram dela. Talvez estivessem até satisfeitos com a volta do samaritano. Agora não precisariam mais se misturar com alguém de outra raça. Paulo nos exorta: “Alegrai-vos com os que se alegram” (Rm 12.15). Choraram juntos, mas não foram capazes de se alegrarem juntos. A gratidão não tem pátria.

WALMIR VIEIRA
CLIC (Centro de Liderança Cristã Criativa), pastor interino da IB Cidade Jardim, Belo Horizonte (MG)
clicwv@hotmail.com

EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

0 comentários: