terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Corpo de Cristo: igreja local (3 de 3)

Esta é a parte 3,
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Escrito por ZAQUEU MOREIRA DE OLIVEIRA
21-Jan-2009

Segundo Duke K. MaCall, “cada grupo de crentes que se reúne em uma determinada localidade, torna-se o corpo de Cristo.

Seu aspecto sagrado parte de cada um, que é o santuário de Deus ou morada do Espírito Santo (1Co 3.16)”. No caso, a palavra “crente” refere-se exclusivamente aos que tiveram a experiência do novo nascimento. A igreja local é independente. Isso não deve ser motivo de uma ação isolada, tendo em vista que Deus permitiu a existência de congregações locais, com as suas diferenças e peculiaridades, para reforçar o trabalho da igreja atuante. Quanto aos batistas, desde o início de sua história, as igrejas formaram grupos com nomes diferentes, tais como associações, assembleias, convenções ou uniões. A primeira iniciativa de reunir várias igrejas batistas ocorreu ainda em 1624, quando cinco igrejas tomaram posições que as diferenciavam dos anabatistas, na ocasião representados pelos menonitas. Logo mais, a partir de 1655, estas reuniões passaram a ser chamadas “associações”. Assim é que surgiu e se manteve o princípio de trabalho cooperativo. Até os dias presentes esses órgãos são formados de igrejas, as quais com eles cooperam sem deixar de ser autônomas. Por sua vez as igrejas enviam os seus delegados ou representantes às associações ou convenções, que podem tomar resoluções e recomendar às igrejas, mas nunca impor. Obviamente cada igreja, enquanto estiver filiada a um organismo, deve acatar as suas decisões ou rejeitar, podendo no último caso deixar de fazer parte do grupo ou ser por ele afastada. A filosofia da CBB esclarece que “a Convenção não substitui a igreja local, mas aglutina recursos, analisa e sugere métodos, planos e proporciona às igrejas condições melhores para o cumprimento de suas funções”. É através do trabalho cooperativo que mesmo as igrejas menores podem participar de atividades missionárias, sociais, educacionais e outras, sem perder a sua autonomia. Conforme alguns, este relacionamento entre igrejas autônomas leva à interdependência, quando assuntos de alta relevância são discutidos e problemas solucionados para o bem de todos. Segundo alguns teólogos batistas, as associações são sociedades voluntárias que chegam a substituir os concílios da igreja “ao tratar de assuntos de interesse eclesiástico”.

As igrejas locais têm a missão de levar a mensagem do evangelho aos perdidos, pelo que a falha no cumprimento dessa responsabilidade ofusca a luz que deve ser irradiada tanto aos de perto como aos de longe (Lc 24.47). Em sua comunidade, cada igreja é “coluna e esteio da verdade” (1Tm 3.15), portanto ela se assenta em uma base sólida, que é a Palavra de Deus. Um exemplo de igreja fiel no seu momento inicial foi a de Éfeso (At 19.10, 20). Infelizmente, anos depois ela perdeu o seu primeiro amor, pelo que o Senhor ameaçou retirar o seu castiçal se não se arrependesse (Ap 2.4 e 5). Segundo Henry G. Weston, para o cumprimento de sua responsabilidade como corpo de Cristo, a igreja precisa ter as seguintes características: (1) relação vital de Cristo com cada membro e de cada membro com Cristo; (2) relação contínua de Cristo com a igreja: (3) relação orgânica dos membros uns com os outros e com o corpo; (4) a igreja no seu todo relacionada com Cristo, uns com os outros e com o mundo. Estes quatro princípios são resumidos como um Salvador vivo, uma igreja viva, uma igreja orgânica e uma igreja completa.

Há responsabilidades que são exclusivas de uma igreja batista, tais como administrar as ordenanças e escolher os seus ministros. O que passa disso é quebra de princípios. Tenho ouvido, ultimamente, algo sobre a ministração de batismo coletivo ou da ceia, por determinação de assembleias convencionais. Isso só pode ocorrer se houver autorização de uma igreja e não por decisão exclusiva da convenção. Se a convenção é realizada em determinado lugar e a igreja que hospeda ou mesmo outra autorizar a realização da ceia, essa poderá ser ministrada com o devido esclarecimento de que o ato foi autorizado por uma igreja local.

Quanto a batismo, a autoridade não é da convenção nem do próprio pastor. Desde o século III tem sido questionado o batismo ministrado por pastores que negaram a fé. Foi aí que surgiu o nome anabatista, aplicado aos que não aceitavam o chamado “batismo de hereges”. No século V, Agostinho de Hipona apresentou uma solução, dizendo “serem os atos dos bispos válidos, independentemente de seu caráter, desde que eles possuíssem a autoridade da igreja”. Assim não havia necessidade de um novo batismo, pois o batismo tinha sido realizado com autorização da igreja; o importante não era a pessoa que ministrava, mas a igreja. Desde o início de nossa história, os batistas acatam este princípio. Conheci alguns pastores batistas que se afastaram do evangelho e nunca retornaram. Com a posição que nós da CBB assumimos da segurança dos salvos, entendemos que eles nunca se converteram. Então, os que foram por eles batizados deveriam pedir novo batismo? Não, porque a autoridade é da igreja e não do ministrante.

Concílios para imposição de mãos não podem ser de iniciativa da Seccional da Ordem dos Pastores. Mas a igreja pode autorizá-la a fazer a convocação do concílio para exame e imposição de mãos. Nem convenção, nem associação nem ordem podem passar por cima da autoridade da igreja local. Recentemente, um seminarista foi com um grupo de pastores para o Oriente Médio, e lá foi formado um concílio de 15 pastores que o examinou. Mas para que isso acontecesse, houve o contato com a igreja no Brasil, da qual ele era membro. Ela autorizou a realização do concílio e este aprovou o candidato e recomendou que a imposição de mãos fosse no Brasil, após apreciação da ata e homologação da decisão do concílio pela igreja. Assim está certo, pois os presbitérios (1Tm 4.14), ou concílios como chamamos, só podem se reunir para examinar e impor as mãos sobre candidatos para o ministério, mediante solicitação de uma igreja local, a qual deverá aprovar ou rejeitar a sua resolução.

Se temos princípios devemos segui-los e não abusar da liberdade para dar ocasião a práticas que nos são estranhas. Tive um irmão na carne que morou em minha casa. Eu e minha esposa colocamos para ele os nossos princípios, inclusive os horários. No dia em que ele abusou de nossa autoridade, precisou se humilhar e se justificar para ter acesso ao apartamento. Pode ser algo duro, mas princípios existem para serem observados com firmeza. Apesar do contexto ser outro, não é demais estender a recomendação paulina quando diz: “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (1Co 14.40).

No passado os batistas eram conhecidos na sociedade que os abrigava como pessoas sérias, que têm princípios, sabem o que são e para onde vão. Em tudo isso estava incluída não apenas a convicção cristã, como o seu conhecimento bíblico e a honestidade. Não precisavam de recomendação de alguém, pois a sua palavra como batista tinha o peso da verdade. Quem tem princípios e os segue merece a confiança até dos infiéis. Que saudade! Será que tudo mudou? “O que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens” (2Co 8.21). As igrejas locais hoje precisam ter a consciência de que são o corpo de Cristo. Ao seguir o exemplo das igrejas primitivas, na integridade e no serviço, será possível absorver o segredo dos constantes e abundantes frutos que eram produzidos para a glória de Deus: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2.42).

ZAQUEU MOREIRA DE OLIVEIRA - Pastor, colaborador de OJB


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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