terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Deixados para trás



PDF Imprimir E-mail
Escrito por OSWALDO LUIZ GOMES JACOB
26-Jan-2009

Começarei esta reflexão fazendo uma afirmação: “Nós somos (como denominação) o único exército que deixa os nossos feridos para trás”. Desejo esclarecer que esta afirmação não é minha. Certamente, quem a elaborou foi uma pessoa sábia que, provavelmente, experimentou a dor do ostracismo e, com certeza, esta dor é experimentada pelos que caem, pelos que erram e pelos chatos de galocha.

Antes que você possa me julgar, desejo esclarecer que não estou magoado e nem decepcionado, mas preocupado com a frieza, o egoísmo e falta de paciência de muitos líderes com os seus liderados que sofrem com as deficiências mais diversas. Alguém disse que a “Igreja não é um museu para santos, mas um hospital para pecadores”. É prudente colocar o desafio de tratarmos uns aos outros com o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5.5). Convém refletirmos sobre a nossa caminhada debaixo da graça de Deus. Na verdade, não temos sido graciosos uns com os outros. Carecemos de paciência com as pessoas que desejam repartir as suas mazelas, as suas mágoas. Não temos “tempo”. Estamos muito ocupados para “perdermos tempo”. Na verdade, muitos de nós temos tido uma postura espartana, ou seja, de excluir, alijar pessoas enfermas, emocional e espiritualmente, do nosso convívio. Não toleramos e não tratamos os que erram. Nós classificamos os pecados.

Como líder, sou observador. Quando participava mais das convenções observava a dispersão de determinados líderes que pareciam os políticos da Câmara dos Deputados, que enquanto um discursava havia um grupo grande de parlamentares conversando. Vivemos a dispersão nos relacionamentos. O individualismo é gritante. Os relacionamentos têm sido pautados, muitas vezes, nos interesses em cargos e não em cargas. Muitos não estão nem aí para aqueles que erraram e que necessitam de cuidado a partir do amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (1Co 13.4-8). Agimos como se nunca fôssemos cair, levar um tombo ou errar feio. Sofremos da amnésia de que somos humanos e maltrapilhos, necessitando plenamente da graça de Deus. Como somos vulneráveis! Estamos num duro processo de cura. Num dia tão especial fomos alcançados com a mesma enfermidade: o domínio do pecado ou da natureza adâmica. Agimos como o sacerdote e o levita, personagens da parábola do samaritano. Passamos de largo quando vislumbramos o ferido, aquele que deseja falar, falar. Vivemos presos a um sistema religioso que premia os “príncipes” e pune os “plebeus”. Banquete para os “príncipes” e pão velho para os “plebeus”. Corremos o risco de tratarmos as pessoas pela via castas. Somos muito seletivos. Precisamos ter compaixão dos que sofrem a rejeição e o ostracismo. Aplicar-lhes uma dose significativa de amor traduzido em mãos que abraçam, mostram o caminho e doam.

Consideremos no nosso fraco coração a postura de Jesus em relação às pessoas. Como Ele as tratava. Ele tinha muito amor. Compaixão. Era sincero. Empático. Ensinou-nos a amar os nossos inimigos, bendizer os que nos maldizem e abençoar os que nos perseguem. Sempre ministrou que devemos ter profunda alegria nos mortos que reviveram e nos perdidos que foram achados na perspectiva da salvação. Ele nos disse claramente que os sãos, os que se acham com saúde, os superespirituais não precisam de médicos, mas, sim, os doentes, os maltrapilhos. Ele curou os cegos, aleijados, leprosos, ressuscitou mortos, convidou os cansados e oprimidos para o descanso, matou a fome dos famintos, chamou os pecadores ao arrependimento, chamou homens rudes para serem seus discípulos, comeu com os párias da sociedade palestínica – região que sofre com ódio, intolerância, egoísmo e morte. Todas a atitudes e atos do Senhor Jesus nos mostram que o amor supera tudo. Que o Deus da graça não faz acepção. O amor transforma inimigos em amigos. O amor é sensível e cuidadoso. Jesus nos ensinou a perdoar sempre. A caminharmos a segunda milha. Repartirmos o pão, o agasalho, o teto e, acima de tudo, o coração. Temos falhado ao buscarmos soluções meramente humanas para os nossos relacionamentos quando Jesus deixou um manual completo chamado evangelho.

Como igrejas e denominação batista avaliemos a nossa postura de acharmos que somos os melhores, os donos da verdade. Precisamos aprender coisas boas que outras denominações têm para nos ensinar. Sejamos instrumentos de cura. Agentes da graça que satisfaz. Cuidemos mais uns dos outros. Estejamos mais sensíveis às mazelas do outro. Exerçamos a paciência mútua. Sejamos mais tolerantes na forma. Evitemos as divisões. Aplaquemos os ânimos vivendo a vida no Espírito. Quando há muito amor as diferenças são diminutas, mas quando há pouco amor as diferenças se agigantam. O evangelho ensina que devemos nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram. O evangelho é a graça derramada pelo Espírito na vida da igreja e, consequentemente, na denominação. Não nos conformemos com os nossos vícios denominacionais. Quebremos paradigmas. Sejamos mais unidos de alma. Que Jesus seja sempre o nosso exemplo de alguém que, voluntariamente, deu-se a si mesmo para nos tornar um exército forte, unido e amoroso, que não permite, não admite de forma alguma deixar os seus feridos para trás. Que assim seja!

OSWALDO LUIZ GOMES JACOB

Pastor, colaborador de OJB


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

0 comentários: