terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Desfazendo algumas distorções do Natal

'Postagem esta um pouco tardia em relação ao evento do Natal, mas a verdade deve ser revelada para a mentira ser desmascarada, e assim, o inimigo não ter vez, distorcendo a realidade sobre um acontecimento tão importante na história da humanidade.'

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Escrito por JEASE COSTA
15-Jan-2009

A época do Natal é singular em vários aspectos, tanto positivos quanto negativos.

Nos aspectos positivos destacam-se, entre outras coisas, a valorização da família e da amizade, e a evocação à fraternidade e à bondade. De certo modo, esses valores são aclamados no período natalino e não há como negar que isso seja bom. Mas há também o que considero aspectos negativos, provocados por distorções impostas ao que entenderíamos como sendo mais adequado ao espírito natalino. Antes, porém, é importante ver o que o texto bíblico diz a respeito do propósito da vinda de Jesus. Na narrativa de Mateus, o anjo diz através de sonho para José, quando este estava pensando em fugir para não difamar Maria, que aquele menino que estava sendo gerado era obra do Espírito Santo e que o seu nome deveria ser Jesus, “porque ele salvaria o seu povo dos seus pecados”. Esse texto merece muita atenção porque nos ajuda a compreender o valor do Natal e eliminar as distorções vividas hoje em relação ao nascimento de Jesus.

Em primeiro lugar, o texto nos mostra que Jesus veio suprir-nos de nossas carências. Mateus diz que ele salvaria o seu povo dos seus pecados, ou, podemos dizer, “ele salvaria o seu povo daquilo que o pecado lhe acarreta”. A palavra grega que traduzimos por salvação é abrangente, não se limitando apenas à salvação escatológica, do inferno, da condenação final. A salvação também pode ser empregada ao livramento da fome, de perigos, da doença, da angústia da alma. Nesse sentido, a vinda de Jesus tinha a proposta de nos trazer alívio de todas as angústias provocadas pela realidade do pecado em nós, tanto escatológica quanto circunstancial. Portanto, Jesus veio para suprir a humanidade de suas carências mais profundas. Esse princípio se contradiz com o espírito natalino contemporâneo, uma vez que este tem a tendência de deixar as pessoas ainda mais carentes. Nessa época se acentuam as carências afetivas, emocionais e materiais. Pais choram por não terem seus filhos sentados à mesa, outros choram por não terem a mesa tão farta; ainda outros choram por não verem ao pé de suas árvores natalinas todos os presentes que gostariam de ganhar. E assim, em vez de a lembrança de Jesus nos proporcionar gratidão a Deus pelo que Jesus veio suprir em nós, nossas carências interiores se alastram distorcendo o sentido mais profundo do Natal.

O segundo elemento que precisa ser revisto ao pensarmos no espírito do Natal é a respeito daquilo que devemos nos tornar ao sermos alcançados pela salvação de Jesus. É bom lembrar que o evangelho se propõe a nos tornar instrumentos daquilo que ele nos fez alcançar. Ou seja, ele nos salva e nos torna instrumentos de sua salvação. Isso pretende nos imunizar contra o egoísmo, contra nossa tendência de colocarmos a nós e as nossas necessidades em posição de primazia em relação ao outro. Enquanto alguns se orgulham de suas mesas fartas, das roupas novas e dos presentes de alto padrão, outros dariam tudo apenas para terem o suficiente para não precisarem dormir com fome. Pensar que Jesus nasceu e que nos alcançou deve nos levar a pensar que a salvação que alcançamos deve também ser estendida ao outro, seja em que nível for, tanto emocional quanto físico ou espiritual. O anjo disse a José que Jesus salvaria o seu povo das misérias resultantes do pecado, porém, as mãos de Deus deverão ser vistas nos braços estendidos daqueles que já foram alcançados por ele. Quando não somos capazes de ver além de nós mesmos ou quando não somos capazes de perceber o outro com suas carências e necessidades, estamos distorcendo o verdadeiro sentido do nascimento de Jesus. Ele nos salvou também para olharmos para o outro e sermos instrumentos de sua salvação.

O terceiro aspecto relevante que precisa ser revisto com o fim de evitarmos distorções no espírito natalino tem a ver com o momento. Isso porque há muitos que até mantêm um espírito mais solidário e fraterno nessa época de fim de ano. Há filhos que desprezam seus pais durante todo o ano que passou, mas no Natal fazem questão de jantarem com eles. Há pais que durante todo o ano privam seus filhos de amor, atenção e cuidado, mas no Natal fazem questão de darem seus presentes. Há também outros que durante quase toda a vida não se mostram capazes de assistir a outras pessoas em suas necessidades, mas no Natal também fazem questão de comprar e distribuir cestas de mantimentos para os pobres. Alguns até saem pelas ruas procurando, embaixo das pontes, famílias as quais possam atender. Certamente que fazer essas coisas não é errado. A distorção se dá, no entanto, quando esse espírito fraterno nos acomete apenas na segunda quinzena dos meses de dezembro, quando na verdade durante toda nossa vida a lembrança de Jesus e sua presença em nossos corações deveriam nos mover em direção ao outro todos os dias. A distorção se dá quando usamos o dia 25 de dezembro como meio de nos redimirmos de tudo o que deixamos de fazer durante o ano que passou, e assim nos escondemos por detrás de algumas boas ações.

E o último aspecto que merece ser repensado, a fim de evitar distorções quanto ao dia do Natal, é relativo à figura mais importante dessa comemoração. Não há dúvidas de que a figura mais importante é o Jesus anunciado pelo anjo a José. Porém, precisamos admitir que ele é a figura da festa menos citada. Essa data comemorativa deveria ser uma boa oportunidade de agradecermos a Deus por ter mandado seu filho para nos redimir de nossos pecados e das misérias que lhe são oriundas. Deveríamos ter nessa data uma boa oportunidade de, em gratidão, celebrarmos toda a vida que alcançamos em Jesus sem deixar de refletir nas implicações disso em nossa relação com a vida e com o próximo. No entanto, alguns são mais gratos ao Papai Noel do que a Jesus. Não que eu seja radical a ponto de achar pecaminosa a brincadeira com o velhinho que traz presentes em sua sacola para as crianças que se comportaram bem durante o ano. O problema se dá, porém, quando ele, o velhinho, assume o lugar de Jesus como sendo a figura mais importante do Natal, deturpando o verdadeiro significado daquilo que foi o maior presente que a humanidade poderia e precisaria receber da parte de Deus. Natal de verdade tem a ver com Jesus, não com Papai Noel.

Concluo, portanto, desejando a todos um feliz Natal com Cristo. Espero que você tenha sua família reunida, com uma mesa farta e com todos os presentes que gostaria de dar e receber. Porém, nada disso terá valor real se faltar Jesus. Que a presença de Jesus traga maior significado para sua vida e para suas comemorações de fim de ano. Que ele lhe supra de suas carências e que você seja o seu braço para suprir as carências do seu próximo; que o espírito de bondade e fraternidade o acompanhem sempre, e que Jesus tenha por todos os dias da sua vida a primazia em seu coração, em seus sonhos e seus caminhos.

JEASE COSTA - Pastor da Igreja Evangélica Batista Moriá, São Paulo (SP) - jeaseeandreia@ospardais.org.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email

(NdaR: OJB recebeu muitos textos tratando do Natal, por isso ainda estamos publicando alguns, mesmo depois de o Natal já ter passado. )


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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