domingo, 25 de janeiro de 2009

Dois momentos de reconhecimento



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Escrito por ISALTINO GOMES COELHO FILHO
22-Jan-2009

O reconhecimento nem sempre é uma virtude encontrada em nosso ambiente.

Constantemente ouço queixas de pastores que empregaram longo tempo de seu ministério com uma igreja ou em alguma atividade denominacional e depois saíram, quando muito, com aquelas plaquinhas de “prata”, agradecendo o bom serviço prestado. Junto à plaquinha, alguns comentários desairosos pelos corredores. Aliás, tenho algumas plaquinhas. E recebi alguns comentários, também. Mas não é este o ponto.

No fim deste ano me senti desvanecido e até comovido com a atitude de duas igrejas que pastoreei. A primeira atitude foi da PIB de Manaus. O diácono Ivan Lima me ligou com o convite para pregar na organização da igreja batista no Tarumã, um trabalho que foi iniciado quando de meu pastorado em Manaus. Na época, pesquisei e vi que não havia nem mesmo uma igreja católica na região que vai do aeroporto de Manaus até a Praia da Ponta Negra. Insisti em abrir um trabalho naquele lugar, o Tarumã. Com sua visão peculiar, a Primeira Igreja comprou um restaurante que fechara, com espaço para estacionamento, em lugar aprazível, para começarmos o trabalho. Agora, em novembro de 2008, foi organizada a igreja do Tarumã, sob a liderança do grande amigo pr. Francisco Brito, e fui convidado para ser o orador no culto de organização. As passagens foram compradas e enviadas, mas no dia anterior à viagem, fui internado num hospital, com infecção pulmonar e intoxicação alimentar, por conta de uma gripe que não tratei, e de uma coxinha que comi e que tinha “intenções pastoricidas”. Agradeço ao meu cunhado, dr. Frederico, que me atendeu, me internou e cuidou de mim. Ele é a cópia da irmã, minha esposa. Os dois são a personificação da bondade. Não fui à amada Manaus, mas a ida foi reagendada para maio de 2009.

Fiquei comovido em ser lembrado para pregar. A alegação da liderança da igreja é que fui o mentor da abertura do trabalho naquela região. Por isso fui lembrado. A simples recordação me comoveu. Vemos tanto esquecimento por parte das igrejas para com os obreiros que a serviram que só isto me soou como uma condecoração. Obrigado à PIB de Manaus, que servi por cinco anos, pela lembrança. Significou muito.

O segundo momento foi o convite do pr. Rogério Moreira Jr., da atual Igreja Batista Geração Eleita, da qual fui o organizador, vinte anos atrás, com o nome de Igreja Batista da Quadra 02, em Sobradinho (DF). Eu trabalhava na administração da Faculdade Teológica Batista de Brasília, e não tinha como pastorear uma igreja. Isto me afligia. Fui pastorear uma congregação que funcionava numa escola municipal, com um rol de 26 membros, mas na realidade eram apenas 17. Nove deram seus nomes para fugir de frequentar a igreja responsável, mas não iam ao trabalho. Um ano depois, organizamos a Igreja Batista da Quadra 02, com apenas 38 membros, e funcionando numa escola. Uma loucura! No dia seguinte efetuei os primeiros batismos da igreja, e minha filha Nelya Werdan Frederico Gomes Coelho foi a primeira pessoa batizada. Era uma menina. Contei mais algumas histórias, entre elas como compramos uma casa excelente, na época, por trinta mil cruzados, e a trocamos por uma casa ruim, mas com terreno maior, onde a igreja construiu seu primeiro templo, para 90 pessoas, e o atual, maior, que é o segundo templo. Agora, a igreja comprou um terreno no valor de R$ 500.000,00, para o terceiro templo. E já organizou outra igreja.

Revi pessoas que batizei como adolescentes e hoje são líderes da igreja. Fiquei sensibilizado e “paguei o mico” de chorar no púlpito, lembrando os bons e duros momentos do passado. Tínhamos um trabalho na delegacia de Sobradinho, com presos que depois seriam removidos para a penitenciária estadual. Fui informado que um daqueles presos hoje é pastor e um dia apareceu na igreja para falar de sua conversão com nosso trabalho.

Como amei a igreja da Quadra 02, hoje Geração Eleita! Disse que quando fui para Manaus não sentia falta da faculdade, mas da igreja. Mostrei o livro “À igreja, com carinho”, que foi produzido a partir da filosofia de ministério que elaborei para trabalhar com a congregação. Na segunda edição do livro se vê que o dediquei à igreja de Cristo, em geral, e a três igrejas: Quadra 02, PIB de Manaus e Cambuí. Consta lá: “Igreja Batista da Quadra 02, em Sobradinho (DF), da qual tive a honra de ser o pastor fundador”.

Após o culto lanchamos com duas famílias daquela época. Foi muito bom. Bom demais.

Bem, não são apenas reminiscências. Não estou tão velho assim (comecei cedo, pessoal – cheguei ao seminário com 19 anos). Mas tirei algumas lições dos dois eventos. Se os episódios narrados são pessoais e a emoção deles não pode ser transferida em sua totalidade, as lições são gerais e as reparto com todos.

A primeira, lembrando de Manaus, é que o obreiro deve ter visão. Não basta tocar o que há, mas é preciso ter visão de futuro. E ali, com a graça de Deus, eu tive. Vi que o Tarumã podia abrigar uma igreja. Hoje abriga. A visão de abrir trabalhos, de enxergar, pela fé, locais que serão progressistas e chegar antes dos outros. A visão de querer abrir novas frentes de trabalho e organizar igrejas novas. Hoje há igrejas que só pensam em engordar o rol, não querendo organizar congregações em igrejas para não ver seu rol diminuir. É a síndrome das megaigrejas, dos megapastores e dos megaempreendimentos. É preciso ter visão, sim, a visão dada por Deus, mais que a empresarial de gerenciar um negócio.

A segunda foi a lição que a PIB de Manaus ensina. Seu pastor atual é o mesmo que me antecedeu, Norton Rikes Lages, um dos melhores que temos. Sem ciúmes, ele concordou que eu fosse convidado. E mesmo satisfeitíssima com ele, ela se lembrou do ex-pastor. É o que mencionei anteriormente: reconhecer os méritos dos obreiros que trabalharam antes. Só as igrejas que têm visão conseguem fazer isto. Há igrejas mesquinhas, e a PIB de Manaus não é uma delas.

Outra lição é a da Quadra 02, hoje Geração Eleita. Olhar para o futuro, e não para o passado. Começamos numa sala de aulas. Hoje a igreja pensa em seu terceiro templo. As igrejas devem crescer, devem ter visão para frente e não cultuar o passado. No excelente livro “Vacas sagradas dão os melhores hambúrgueres”, Kriegel e Brandt, os autores, mostram que a melhor maneira de uma empresa ou instituição morrer é mirando o seu passado. Não se vai para frente olhando-se pelo retrovisor. A antiga Quadra 02 tem vinte anos e vai para seu quarto local de cultos. Vai deixando os casulos que não mais a comportam, sem cultuar os prédios. Ela me respeita, mas não me canonizou nem sacralizou a construção feita no meu tempo e a iniciada no meu tempo. Há igrejas que cultuam seu passado. Elas querem perpetuar uma situação que não mais existe e não se adaptam a novos tempos. Seu futuro corre riscos.

Mais uma lição, vendo a hoje igreja do Tarumã (que ainda não conheço) e a Geração Eleita: vale a pena semear a Palavra de Deus. Vale a pena assumir a postura da qual tantos hoje zombam, de pregar um sermão evangelístico, fazer um apelo e chamar as pessoas para virem à frente aceitando a Cristo. Porque as pessoas vão à frente. Pessoas se convertem. O trabalho na delegacia parecia insignificante, mas aqueles presos nos recebiam com alegria. Eu imprimia o esboço do sermão, distribuía com eles, levávamos uma garrafa de café, refrigerantes e bolachas. Eles faziam fila para eu orar por eles, impondo-lhes as mãos, um por um. Guardo um “porta-jóias” de palitos de fósforos, feito por eles: “Ao pastor amigo”. É um tesouro valioso. Nada o paga. Num natal, desfiaram a calça jeans de um preso e fizeram-me uma árvore de natal de fios de jeans. Eles amavam o pastor que os atendia. Obrigado, ex-ovelhas, que só Deus sabe por onde andam.

Outra lição: compensa servir a Jesus, pregar o evangelho, ser pastor. Não há dinheiro que pague a alegria de saber que foi o instrumento usado por Deus para transformar um preso em pastor, para trazer o bálsamo divino a sofredores, para ajudar o reino a crescer. Louvo a Deus: eu sou pastor. Com todos meus defeitos, com minhas muitas limitações, com meus pecados, sou pastor. Pela graça de Deus! Não quero ser outra coisa.

A lição última: a igreja nos traz amigos mais chegados que um irmão. Podemos passar anos sem vê-los, mas quando os vemos, começamos de onde havíamos parado. O evangelho enriquece a vida e alegra a alma. Dá satisfação e profunda realização. Que maravilha é seguir a Cristo! Há tantas bênçãos!

Obrigado, PIB de Manaus. Obrigado, ex-Quadra 02. Vocês duas me fizeram chorar de emoção. Dois dos meus melhores momentos do ano de 2008 me foram dados por vocês. Deus as recompense. Louvo a Deus porque, na sua infinita bondade, me permitiu que eu pudesse servi-las.

ISALTINO GOMES COELHO FILHO - Pastor, colaborador de OJB


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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