sábado, 24 de janeiro de 2009

Igreja para surdos



PDF Imprimir E-mail
Escrito por MARÍLIA MORAES MANHÃES
22-Jan-2009

RETROCESSO NO PROCESSO DE INCLUSÃO?

Image
Igreja para surdos
Na edição nº 50, de 14 de dezembro, na seção Cartas dos Leitores, o pr. Douglas Pie (IB Capela da Videira, Curitiba/PR) questionou a validade de uma igreja para surdos, vendo a iniciativa como forma de discriminação. Abaixo discorremos sobre o tema, na expectativa de esclarecer seu significado.

Ouvindo e vendo os desafios de ganhar os surdos para Cristo, observando suas comunidades, língua e cultura, atendendo o clamor dos surdos que desejam cultuar e louvar a Deus em sua plenitude através de sua língua, aceitamos o desafio de plantar igrejas com surdos, igrejas estas que terão como a L1 (primeira língua) a língua brasileira de sinais e a L2 (segunda língua) a língua portuguesa, atendendo cultural e linguisticamente a comunidade surda, incluindo todos. Os ouvintes serão assistidos com a língua portuguesa através do intérprete de libras, fazendo a versão voz, ou seja, toda a programação será traduzida para língua oral.

A língua de sinais é a segunda língua oficial no Brasil, de acordo com decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005 que regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. As universidades, as políticas educacionais e sociais estão se articulando visando ao cumprimento desta lei. Seitas erguendo seus salões para receber esta população, pastorais se organizando com movimento em todo o país com missas somente para os surdos. Por que não erguermos igrejas batistas com surdos, onde nós ouvintes estaremos juntos com eles aprendendo, compartilhando e crescendo juntos. Seria o contrário do que ocorre hoje em nossas igrejas que tem o ministério com surdos. Os ouvintes têm seu culto normal enquanto os surdos são atendidos por intérpretes. Na igreja com surdos, nós, ouvintes, é que precisaremos de intérprete. Da mesma maneira que podemos incluí-los em nossas igrejas, eles podem nos incluir em seu grupo. O que importa é que o Reino de Deus cresça, e, se essa for a maneira de visualizarmos o crescimento do Reino de Deus, devemos estar prontos e obedientes para estarmos juntos no que Deus quer fazer.

Entendemos a preocupação do pastor de criar um “nicho específico para eles e isolá-los dos demais”, mas, conhecendo a comunidade surda e vivendo há muitos anos com ela, sabemos de seu desejo de ter escolas, igrejas e comunidades onde exista uma real inclusão, onde vamos olhar para este grupo e aprender com eles, onde eles serão sujeitos ativos e não passivos de nossas ações. Não devemos incluí-los por acharmos meramente que eles dependem e precisam de nós ouvintes.

Entendemos a necessidade dos surdos de poder cultuar a Deus em sua língua e cultura, sendo um grupo ético não alcançado pelo evangelho, e nomeamos seis missionários surdos para apoiar as frentes missionárias na plantação de ministérios com surdos e plantar igrejas. Não importa se o nome dessa igreja será igreja batista com surdos ou igreja batista com nome de um determinado bairro ou cidade, mas o que entendemos é que será dirigida por um obreiro que vive e conhece a realidade, a cultura e a língua brasileira de sinais utilizada pela comunidade surda brasileira, que é o nosso alvo.

Temos hoje poucos resultados de surdos decididos, integrados e inclusos em nossas igrejas. Poucas igrejas realizam este trabalho, com um obreiro de tempo integral. Trabalhar com os surdos não é só formar grupos interessados em aprender a Libras; não é só ter intérpretes voluntários atendendo somente nos horários de cultos. O ministério com surdos é muito mais. É um ministério que exige tempo integral. É um ministério pastoral.

Nós batistas estamos perdendo os surdos para o inimigo de nossas almas. Surdos, que já estiveram em nossas igrejas, hoje estão no mundo. Ouvi vários líderes de ministério com surdos dizendo: “Tínhamos um coral lindo! E agora não temos quase nenhum surdo em nosso meio.” Por que será? Mas Deus tem levantado homens e mulheres surdos e ouvintes obedientes ao Senhor que estão se dispondo para levantar um novo tempo com estratégias voltadas para atender esta grande parcela de mais de 6 milhões de surdos de nossa população brasileira. Isso nos sinaliza que devemos avançar!

Missões Nacionais deseja que muitas igrejas batistas sejam igreja-mãe de projetos como estes e que continuem investindo no ministério integral com surdos. Àquelas que já desenvolvem o ministério com surdos, que desenvolvam ministérios fortes, para que se levantem mais líderes, vocacionados que atuem eficazmente, líderes servidores que influenciem outros líderes.

Missionária Marília Moraes Manhães - Coordenadora do Ministério com Surdos da JMN


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

0 comentários: