terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Medo de voar



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Escrito por CARLOS CESAR PEFF NOVAES
24-Jan-2009

É preciso que se diga logo de saída que não gosto de avião. Concordo plenamente com os argumentos que Vinícius de Moraes usava para evitar viagens aéreas: o avião é movido por motor a explosão, é mais pesado que o ar, quebra lá em cima enquanto as oficinas estão todas aqui embaixo e – last but not least – foi inventado por brasileiro.

Embora com medo, já enfrentei muitas decolagens e pousos, turbulências e vácuos, voos diurnos e noturnos com invejável resignação. Durante a viagem, fico de olho nos movimentos da tripulação e desconfio sempre da serenidade das aeromoças e comissários, principalmente quando insistem em garantir que tudo está sob controle ao tempo em que a aeronave sacoleja feito carroça em estrada esburacada.

Voei algumas vezes para Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Campo Grande, Cuiabá, Salvador, Porto Seguro, Natal, São Luis, Belém, Manaus, Buenos Aires, Miami, São Francisco, Nova York, Lisboa e Paris, que eu me lembre. Convenhamos que é até uma razoável folha corrida de voos para quem não tira o cinto, não consegue dormir, não presta atenção no filme a bordo, não come direito e evita ir ao banheiro com receio de ficar longe demais da máscara de oxigênio e do assento flutuante. Felizmente, nunca passei por situações arriscadas, como pousos forçados, descidas de emergência, derrapagem na pista, paralisação da turbina, despressurização da nave e coisas do gênero.

Por isso, fiquei comovido ao acompanhar o resgate das 155 pessoas a bordo do Airbus 320, da US Airways, que desceu sobre um rio em Manhattan, logo após decolar do aeroporto La Guardia. Parece que o grande herói do dia foi o piloto Chelsey Sullenberger – que conseguiu fazer o avião pousar, sem maiores danos, nas águas geladas do Hudson. Graças ao experiente e habilidoso piloto, tudo não passou de um grande susto.

Nos dois últimos anos, assistimos estarrecidos a gravíssimos acidentes aéreos no Brasil: o do avião da Gol, que caiu na região amazônica após chocar-se com um jato particular, e o do aparelho da TAM, que explodiu contra um prédio da própria companhia porque os pilotos não conseguiram frear na pista do aeroporto paulistano de Congonhas. Dois acidentes com centenas de mortos que, de acordo com os resultados das investigações posteriores, podiam ter sido evitados.

Dizem que o avião é o meio de transporte mais seguro que há. Talvez. Mas, por precaução, continuo preferindo pés e rodas a asas. Claro, também acontecem acidentes com pedestres e conduções. Mas, ao menos, já estão no chão.

Certa vez, no decorrer de uma viagem entre Belo Horizonte e Brasília, o político mineiro Milton Campos começou a passar mal. A aeromoça atendeu-o imediatamente, perguntando se estava sentindo falta de ar. Ao que ele respondeu: “Não, minha senhora. É falta de terra mesmo”.

É o meu caso.

CARLOS CESAR PEFF NOVAES

Pastor da IB de Barão da Taquara, Rio de Janeiro (RJ)


ARTIGO EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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