domingo, 25 de janeiro de 2009

A pessoa do líder



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Escrito por JOÃO PEDRO GONÇALVES ARAÚJO
22-Jan-2009
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No meio de toda essa avalanche de método de crescimento e de gerenciamento corporativo, é necessário considerar a pessoa do líder e o crescimento da igreja. Não quero diminuir os fatores espirituais – o poder de Deus –, nem o trabalho dos auxiliares. Isso tudo é tomado como certo. No entanto, faço um convite a uma reflexão sobre a pessoa do líder como uma das peças-chaves para o crescimento ou não do rebanho.

Nos últimos anos surgiram muitas sugestões e programas na área de crescimento de igrejas. Não há um nome específico para essa tendência. Pode ser chamado de programa, princípio ou método de crescimento. Não é necessário nominá-los aqui. Sugiro que os leitores saibam a que me refiro. Há programa para todos os tipos de igrejas e denominações, para as diversas faixas etárias e para as diversas organizações das igrejas.

Junto com os métodos, testemunhamos a adesões efusivas de um lado e rejeições peremptórias de outro. Com isso, o mundo eclesiástico tende a se dividir em blocos dos que abraçam determinados métodos/princípios e daqueles que se opõem. Como conseqüência, vê-se a tendência de uma nova geografia eclesiástica: igrejas com programas iguais mantêm entre si uma afinidade eletiva que, às vezes, está em um nível supradenominacional. Dentro de uma mesma denominação, constata-se uma pluralidade de igrejas com microrrelações entre si.

Junto com os métodos de crescimento de igrejas, os últimos anos também foram férteis no surgimento de técnicas, seminários, simpósios, institutos, seminários e livros sobre liderança. Recentemente, o Brasil tem hospedado diversos eventos e líderes que se propõem treinar e desafiar pastores em como liderar melhor. Nesses tempos recentes, termos como liderança, ministério do leigo, gerenciamento do voluntariado, planejamento estratégico, reengenharia, líder servidor, líder 360°, e muitos outros são ressignificados.

No meio de toda essa avalanche de método de crescimento e de gerenciamento corporativo, é necessário considerar a pessoa do líder e o crescimento da igreja. Não quero diminuir os fatores espirituais – o poder de Deus –, nem o trabalho dos auxiliares. Isso tudo é tomado como certo. No entanto, faço um convite a uma reflexão sobre a pessoa do líder como uma das peças-chaves para o crescimento ou não do rebanho. Qualquer líder que examinemos terá a questão do carisma pessoal, do poder de atrair pessoas em volta de si, da capacidade de agregar voluntários que acreditam naquele projeto em que ele está envolvido e a capacidade de mobilizar pessoas para se alcançar um determinado fim. Deixando de lado os líderes políticos e militares, foquemos os líderes bíblicos.

Pinço alguns líderes que servirão como exemplos. A Bíblia afirma que Moisés “era tido em alta estima no Egito e pelos conselheiros do faraó e pelo povo” (Ex 11.3). Líderes como Samuel, Davi, Ester, Neemias e Daniel foram descritos com as mesmas características: encontrar aquele estado de graça diante das pessoas, tanto aquelas que estavam hierarquicamente acima como das que as seguiriam. No NT, encontramos Barnabé – que fora enviado pela igreja de Jerusalém a Antioquia –, com esta descrição: “Era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé; e muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor” (At 11.24). Um relato acerca da liderança da igreja em Jerusalém é dado em Atos 5.13: o povo os tinha (os apóstolos) “em alta estima”.

Observando-se os curriculi de nossos Seminários e Faculdades de Teologia, bem como os concílios examinatórios de candidatos ao ministério, não vemos quaisquer disciplinas ou questões acerca dessas características tratadas aqui. Silencia-se completamente sobre isso. Pergunta-se sobre (quase) tudo, mas acerca de como o candidato se relaciona com as pessoas, se é agregador, se sabe cooptar pessoas, se é desafiador, se consegue manter pessoas em volta de um sonho, se consegue agregar pessoas que acreditam em um projeto e que por ele poderiam dar a vida... nada. Esses itens não estão ausentes apenas em nossas instituições de formação teológica. Estão ausentes também nos workshops, simpósios e livros sobre liderança e sobre os diversos métodos de crescimento de igreja. Despessoaliza-se o ministério e a pessoa do ministro e foca-se na técnica e seu gerenciamento.

Insisto, todavia, que esses requisitos não podem faltar. Acima do que está sendo oferecido no “mercado” sobre liderança e crescimento da igreja, a pessoa do líder ainda é a chave, ainda que não considerada devidamente. É possível termos líderes que dominam a técnica, mas que não sabem vivenciá-las. No entanto, temos e tivemos muitos bons líderes que não conheceram todas (ou sequer uma) essas técnicas que hoje são ensinadas. Pessoas são agregadas e atraídas a líderes (de coração) bons, que as amam, que lhes infundem um sonho, uma visão, que renova essa visão, que as animam, que as elogiam, que as “põem para cima”. Parece que essa foi, dentre outras, a característica exigida por Paulo em 1Timóteo 3.2-7. Característica descrita em termos de amabilidade, de boa mente, moderado...

Um ministério para ser frutífero não depende de dinheiro e prédios; não depende do tamanho ou localização da igreja; não depende das técnicas de gerenciamento ou crescimento de igreja. Tudo isso pode ajudar; pode conhecer tudo isso e ainda ser um fracasso no ministério. O ministério está baseado, em primeiro lugar, na pessoa do líder. Pessoas não seguem técnicos. Pessoas seguem pessoas.

Avaliar-se a si mesmo, pedir ajuda aos liderados no sentido de que eles opinem sobre a pessoa do líder e de como o mesmo pode ser melhor, como pode mudar, pode ser o início de tudo. Fazer isso, no entanto, pode trazer espanto, tristeza e até decepção e frustração. Será uma quebra de paradigma. Mas fazer essa pergunta aos liderados já começará grandes mudanças na forma como eles verão os seus líderes!

JOÃO PEDRO GONÇALVES ARAÚJO - Pastor da IB no Lago Sul, Brasília (DF)


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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