quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

SWOT missionário de Jesus (1 de 3)



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Escrito por WALMIR VIEIRA
15-Jan-2009

Forças, fraquezas, ameaças e oportunidades à obra missionário-evangelística em Lucas 10.1-12

SWOT é uma expressão criada com as primeiras letras das palavras em inglês: Strengths (Força), Weaknesses (Fraqueza), Opportunities (Oportunidade) e Theats (Ameaça). Em português, ficou conhecido também como FOFA (Força, Oportunidade, Fraqueza e Ameaça). É uma das partes mais importantes do planejamento estratégico. No planejamento são definidos também a missão, a visão, os valores, as metas e as estratégias para alcançar os objetivos de uma organização. Estas partes Jesus também definiu claramente, mas vamos ver nesta reflexão apenas SWOT.

SWOT é a descrição, de forma mais completa e realística possível, do cenário ou do ambiente externo e interno da atuação de uma instituição. Procura antever as eventuais dificuldades que ela enfrentará e apontar todo o potencial de que ela dispõe ou terá que desenvolver para atingir seus alvos. Procura sinalizar e até antever as possíveis tendências e mudanças do campo de atuação da organização e, também, mostrar as barreiras que precisarão ser transpostas para que ela alcance sucesso. Depois de conhecido o ambiente estabelece-se então as metas e as estratégias a serem usadas para se alcançar cada uma das metas.

No texto de Lucas 10.1-12, mesmo de forma não tão sistematizada, Jesus elabora o SWOT da obra missionária e aponta algumas estratégias. Ao enviar os 70 (ou 72) discípulos para as cidades por onde passaria para preparar-lhe o caminho, já nesta ação mostra inteligência estratégica. Ele, como bom líder, vai prevenir seus missionários quanto às fraquezas que podem demonstrar e as ameaças que podem enfrentar. Vai, também, incentivá-los mostrando a força que possuem e as oportunidades que estão abertas para a missão.

Ao tempo que no texto já descortina o cenário para seus discípulos, cenário este já conhecido por Jesus, Ele também já define as estratégias a serem adotadas para que a empreitada seja bem-sucedida.

A escolha dos 70 (ou 72) que foram enviados teve como inspiração a importância desse número para a cultura judaica: composição do Sinédrio, representantes das 12 tribos de Israel (6 x 12), os auxiliares de Moisés (Nm 11.16-17), o número das nações gentílicas (Gn 10) e a tradução da chamada Septuaginta.

Vejamos, portanto, como Jesus descreveu as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades da obra de evangelização e missões e estabeleceu algumas estratégias.

FORÇA

1. Oração. “Rogai, pois, ao Senhor da Seara que mande obreiros para a sua seara...” (v. 2). O principal recurso que a obra de evangelização tem é a oração. Ela é a mola propulsora de missões. É através dela que as vidas são despertadas, ou para irem, para contribuírem, ou serem missionários locais. Temos este poderoso instrumento para acionar os céus. A Bíblia diz que se orarmos segundo a vontade de Deus Ele nos atenderá. Missões é da vontade de Deus. Orar por missões é certeza de resposta atendida. Deus quer que oremos pela evangelização do mundo. Esta é a parte mais fácil da obra missionária e a mais poderosa.

2. Vocacionados. E “designou o Senhor ainda outros setenta e os mandou...” (v. 1) “Ide...” (v. 3). Eis aí uma grande força: é Jesus quem comissiona. É Ele quem designa. É ele que convoca e envia. Não é qualquer um: é o Filho de Deus. Alguns para uma obra específica, de tempo integral, e todos os cristãos para o testemunho evangelizador em sua cidade. Vamos, com a sua chancela e sob sua autoridade. Podemos ir sem temor e com muita segurança, pois assim como Ele envia, também acompanha, sustenta e encoraja.

3. Solidariedade. Jesus recomendou que fossem “de dois em dois” (v. 1). Pelo menos dois. Dois significa confirmação de testemunho. Dois é garantia de amparo e cuidado mútuos. “Melhor é serem dois, pois se um cair, quem o levantará?” Jesus sabia que haveria desânimo de um. Nesse momento, haveria o outro para encorajar em Seu nome. O sentimento de solidão enfraquece o missionário. O trabalho de dois (casal ou dupla feminina ou masculina) rende mais. É a lógica da sinergia: o resultado do esforço de dois juntos é maior do que a soma do resultado de dois trabalhando separadamente.

4. Senhorio de Deus. “Rogai ao Senhor da seara...” (v. 2). Deus é o dono do mundo. “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” Tudo é de Deus. Vamos trabalhar naquilo que pertence a Deus. Ele é o legítimo proprietário. Embora o usurpador tenha se apropriado do mundo mau, e enganado muitos dos seus habitantes, tudo, originalmente, é de Deus. Mais cedo ou mais tarde voltará para Ele tudo o que não estiver ou não quiser estar sob seu senhorio. Podemos entrar na seara sem temor. Temos o certificado de propriedade e a procuração divina do verdadeiro dono. Estaremos trabalhando por uma causa jurídica, econômica, moral e espiritualmente vencedora.

5. Provisão divina. Jesus envia e garante provisão. Ele tem seus meios para não permitir que seus obreiros fiquem desamparados e carentes do suprimento de suas necessidades básicas. Jesus reconhece que “digno é o obreiro de seu salário” (v. 7). Não há constrangimento em receber sustento por fazer a obra missionária ou por exercer qualquer outro ministério dentro do reino dEle. Deus sabe de nossas necessidades e prometeu supri-las (necessidades, não, vontades). Deus, através de sua igreja, levantará os recursos necessários para a manutenção dos seus trabalhadores do campo.

6. Autoridade espiritual. Os que são chamados para a obra missionária específica recebem, com o chamado, a unção ou a autoridade espiritual necessária para o exercício da função. Essa deve ser usada com temor e tremor. Não é para alimentar vaidade ou arrogância. Deve ser exercida com humildade e santidade. “Mas em qualquer cidade em que entrardes e não vos receberdes, saindo por sua rua, dizei: Até o pó da vossa cidade que se nos pegou sacudiremos sobre vós” (v. 10 e 11). “...Curai os enfermos ...” (v. 9). Os filhos de Deus, enviados por Ele, têm autoridade para fazer obras semelhantes às de Jesus e, principalmente, proclamar os juízos de Deus. São representantes de Cristo. Possuímos o poder que Deus tem, que foi dado a Cristo e que ele nos deu. Quem não recebe aos Seus enviados e a Sua mensagem, despreza o Cristo de Deus e sofrerão as conseqüências dessa rejeição. Os missionários de Cristo têm a autoridade de Cristo, para usá-la com a sabedoria de Cristo, segundo a vontade Deus.

FRAQUEZAS

1. Falta de obreiros. “Grande na verdade é a seara, mas poucos são os obreiros” (v. 2). Esta é uma eterna fraqueza da obra missionária e da evangelização. Há sempre déficit de pessoas dispostas a irem aos campos missionários ou se envolverem na evangelização diretamente. Não é porque Deus não esteja mandando. Não é porque faltem recursos. Falta despertamento de vocações. Falta gente querendo comprometer-se. A seara é enorme. Só para se ter uma idéia, estima-se que haja cerca de 40 mil obreiros de tempo integral de todas as denominações cristãs buscando alcançar quatro bilhões de pessoas em sociedades não-cristãs. São cerca de 100.000 vidas para cada um missionário. Parece uma tarefa inglória. Isso sem levar em conta as ditas sociedades cristãs.

2. Materialismo. “Não leveis bolsa” (v. 4). A falta de obreiros pode se dar em função da remuneração considerada baixa por alguns. Se se vai para o campo com a “bolsa” no coração, a obra não será realizada. Também, os que são enviados não podem ficar ansiosos quanto ao “como viveremos, com o que nos vestiremos”. Mais uma vez o Corpo de Cristo tomará para si esta responsabilidade. A igreja do Senhor sustentará os obreiros. Eles terão suas necessidades providas. Daí, a recomendação: “não leveis bolsa” (v. 4a), nem na mão, nem no coração. Os chamados por Deus devem deixar suas ansiedades com o Senhor e fazer a obra com dedicação e tranqüilidade.

3. Não-vocacionados. “... Designou o Senhor outros setenta...”. (v. 1) Apesar da falta de obreiros, há casos de obreiros que vão sem terem sido chamados. Há “missionários” que vão sem o espírito missionário. Tem gente “fazendo” a obra sem ter o comissionamento do Senhor. Quando é assim, acabam fazendo o trabalho de maneira relaxada. Em vez de ganharem vidas, perdem-nas. Seu testemunho é ineficaz e seu trabalho é infrutífero. Não foi chamado para ir. Uma pessoa no campo missionário sem ter sido chamada atrapalha e enfraquece a obra. Alguns podem usar a obra de Missões, muitas vezes, para fugir de um emprego ou ministério frustrado. O texto diz que “designou o Senhor ainda outros setenta e os mandou...”. (v. 1). “Ide” (v. 3). É Ele quem chama. Ele sabe quem tem o dom para a tarefa. Não se deve ir sem a certeza de chamada, tanto quanto não se deve ficar tendo certeza dela. Naturalmente, todos os cristãos são chamados a evangelizar e testemunhar, mas alguns recebem um chamado especial.

4. Comodidade. “Nem alforje” (sacola) (v. 4). Não se deseja que os que vão para o campo passem privações. Essa idéia de constante sofrimento e permanente perigo dos que estão em Missões é romântica e meio fantasiosa. Que eventualmente possam enfrentar dificuldades e oposição em seu trabalho ninguém duvida, como também os que são evangelistas em sua localidade podem sofrer na mesma medida, quando levam seu trabalho a sério e querem viver piedosamente. No entanto, quem vai ser missionário de tempo integral não deve esperar ter ou levar tudo que quer. Pode ser que algumas coisas mudem em sua rotina e em seu conforto. Os que se dedicam a Missões não devem levar “alforje” – suprimentos. Muita coisa na mão, na bagagem, na mudança atrapalha. Deve-se levar apenas o essencial. Essencialmente, os recursos necessários ao seu trabalho. Deixe a provisão com o Senhor. Não tenha apego às coisas materiais. Elas podem embaraçar e atrapalhar seu trabalho. Deixe que a Igreja de Jesus cuide disso. Daí a importância de nossas Juntas Missionárias, que representam as igrejas, embora a igreja local possa, também, sozinha cuidar de seu missionário que está no campo.

5. Ansiedade. “Nem alparcas” (sandálias). Isto é, pares extras de calçado. Levar mais um par de sandálias significa, neste texto, insegurança quanto ao futuro. Jesus pediu total dependência e confiança nEle. Os que se envolvem na obra devem fazê-lo de coração e sem preocupação outra que não seja semear, cuidar e colher. Isto não é um incentivo à irresponsabilidade ou a falta de prudência. Ele pedia que não se preocupassem com o amanhã, porque do amanhã Ele cuidaria para eles. Ele acionaria sua igreja para zelar por isto. Cabe a nós do Corpo de Cristo providenciar as outras sandálias (as da aposentadoria) dos nossos missionários. Cabe à igreja montar um programa de previdência para os obreiros que ao Reino se dedicam integralmente. Eles precisam trabalhar sem ansiedade para serem mais produtivos.

6. Falta de coragem e fé. Diante do não recebimento dos seus, Jesus manda dizer: “Até o pó que da vossa cidade se nos pegou, sacudiremos sobre vós. Sabei, contudo, isto, que já o Reino de Deus é chegado a vós”. Muito da fraqueza da obra missionária e evangelística se deve à falta de coragem e fé dos servos de Deus. Por diversas razões, nossa voz profética tem sido sufocada. Temos vontade de denunciar o mal, o juízo de Deus, a corrupção, as consequências do pecado, a ira de Deus, mas a teologia liberal nos inibe, nos deixamos intimidar pela cultura da sociedade da pós-modernidade, com seus valores fluidos. Calamos nossa voz até para não desagradar muitos ditos cristãos. Se não crermos no que pregamos é melhor não pregarmos. Se não temos coragem de enfrentar a rejeição é melhor declinarmos da tarefa missionária. Se não formos capazes de responder com sabedoria e firmeza “a razão da esperança que há em nós”, então a obra evangelizadora se enfraquecerá. Podem rejeitar. É esperado. Mas, que saibam as consequências disso, ainda que soframos por comunicar isto. Que não nos calemos.

WALMIR VIEIRA - CLIC (Centro de Liderança Cristã Criativa), pastor interino da IB Cidade Jardim, Belo Horizonte (MG) - clicwv@hotmail.com


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br



CONTINUAÇÃO: parte 2 e parte 3

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