sábado, 3 de janeiro de 2009

Tempo de angústia



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Escrito por FRANCISCO MANCEBO REIS
27-Dec-2008
“Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão”. – Provérbios 17.17

A dor, além de se multiplicar, diversifica-se num leque bem aberto – violência (com suas nuances), relacionamentos (fragilizados e/ou interrompidos), acidentes, desempregos, enfermidades, mortes. Enfim, insegurança que lembra 1Tessalonicenses 5.3 (respeitado o contexto escatológico): “Quando andarem dizendo: Há paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição”. Numa síntese, a propósito do momento que aflige milhares de humanos, creio ser útil ponderar dois aspectos:

IMPARCIALIDADE

A borrasca transpõe fronteiras.

1) Fronteiras geográficas. Não devasta apenas populações ribeirinhas, ou áreas alcançadas por ondas gigantes, ou vales mais propícios ao represamento de uma tromba d’água. Ainda que a topografia favoreça a contenção de fortes chuvas, fazendo transbordar rios e dificultar o escoamento, montanhas também são vulneráveis. A angústia desce ao mais simples casebre e sobe ao mais sofisticado palácio. Bairros de classe média alta não têm sido poupados. O mar engole alguém em pleno banho e lança uma onda mortífera contra um turista, tranqüilo, sentado numa rocha, extasiado com as lindas vagas marítimas.


2) Fronteiras raciais. A tormenta desconhece nacionalidades ou etnias. Ignora hierarquias estabelecidas pela petulância humana. Leva o brasileiro, arrasta o alemão, abate o norte-americano, derruba o japonês, destrói o árabe, despoja o africano. A todos nivela. Ninguém fica imune, pois ninguém é superior. Basta uma olhadinha nos noticiários. A dor conhece, portanto, uma só raça: a raça humana.


3) Fronteiras religiosas. Quem confere ao crente a imunidade nos temporais, nos desastres, nos assaltos, nas doenças e outras desditas? A pregação irracional, antibíblica e vaidosa (às vezes, desonesta) vem cativando e iludindo os mais propensos à manipulação. Entre as quase 200 vítimas daquele acidente aéreo com a TAM, em Congonhas, consta que estava um pastor. Poderia estar um padre ou um rabino. Quantas confissões religiosas perderam adeptos em Santa Catarina e noutros estados, com os recentes excessos de chuva? Como se percebe, a imparcialidade não discrimina. Faz justiça. Evita queixas. É o seu lado democrático.


MÃO AMIGA

A aflição é capaz de destruir, mas oferece lições construtivas a quem dela tire proveito. A crise financeira atual, a um só tempo, imobiliza e move o mundo. Torna clara a diferença entre possuir (cada um) apenas para si e possuir também para o outro. O egoísmo acaba despertando o altruísmo adormecido e lhe permitindo atuar. O humanismo individualista e excludente rende-se à solidariedade solicitada, e com lepidez. É a mão amiga que se estende generosamente.

As sucessivas agressões da natureza em desequilíbrio provocam uma análise sensível a respeito do qualitativo (o ser humano) em oposição ao quantitativo (o dinheiro). Desvia-se, então, o foco do material e fugaz para o imaterial e imperecível. A parábola do rico insensato aplica-se aqui e agora (Lc 12.13-21). De igual modo, Mateus 6.24-34. Paulo reprova o egoísmo (Fp 2.4). O apóstolo do amor adverte: “Quem tiver bens no mundo e, vendo seu irmão necessitado, cerrar-lhe o seu coração, como estará nele o amor de Deus?” (1Jo 3.17). Qual o sentido de Provérbios 17.17? A angústia tem o mérito de fazer do amigo um irmão. Noutra versão, diz o texto: “O amigo ama sempre e na desgraça ele se torna um irmão”. Esta é uma atitude cristã bem transparente na solidariedade vista nestes dias de intensa consternação (e até desespero) no Brasil e em outros países. Cabe a pergunta: Quem terá compaixão? Melhor: Quem não terá compaixão?

FRANCISCO MANCEBO REIS

Pastor, colaborador de OJB


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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