segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Por uma educação teológica contemporânea



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Escrito por JOSÉ MIGUEL M. AGUILERA
03-Feb-2009

A educação em geral sempre tem convivido com o mote de viver em crise. Críticas de que não há suficiente investimento na educação é algo com que o Brasil tem vivido por décadas. Sempre se viveu numa crise, embora muitos tenham abraçado a idéia de que “crise” é oportunidade e estes têm usado as circunstâncias para que elas trabalhem a favor dos projetos.

É assim que deve ser vista a educação teológica. Em outras palavras, se existe uma crise, ela deve ser enxergada como a oportunidade para o despertar da criatividade. A educação teológica precisa ser compreendida na dialética do mundo eclesial e a sociedade contemporânea e, diante disso, queremos apresentar algumas sugestões para que este diálogo intramundano se inicie. 1- Mesmo após 30 anos envolvido com a educação teológica, percebo ainda a existência de uma dicotomia entre educação religiosa e educação teológica. Tal separação é um fator que divide as forças no mundo pedagógico das igrejas. O pastor é teólogo e quem trabalha no ensino é educador. Entendo que ambos são teólogos e educadores. Talvez para o leitor, a palavra teologia traga erroneamente a concepção de falta de espiritualidade ou destruição da fé. Um grande equívoco. No momento, o espaço não nos permite desenvolver este pensamento, mas essa divisão quebra uma unidade “funcional” para que a igreja alcance a “unidade da fé”. Esta fé teológica precisa ser ensinada e se faz necessária a parceria entre o educador e o teólogo, unindo forças e “repensando a forma de fazer teologia em nosso estado”.

2- O mundo globalizado que vive a contradição do global e do individual implica em que se use ferramentas de ensino tanto na teologia, como nas escolas, seminários e nas igrejas. Enquanto os líderes e executivos do mundo empresarial, de outras religiões e seitas, usam estratégias de alto nível, técnicas de aprendizado, metodologias de ensino, recursos midiáticos, informatização, etc., pois sabem que treinamento e educação é a base de toda a expansão desejada de qualquer instituição, nossas igrejas e escolas teológicas ainda permanecem no século 19 com um currículo ultrapassado que não responde à pergunta do ser humano na pós-modernidade: para que serve a fé cristã diante da realidade brasileira?

3- O mundo contemporâneo é cosmopolita. Vemos nos próprios jornais denominacionais que algumas igrejas do interior do Brasil fecharam suas portas por falta de frequentadores. Estes se mudaram para as grandes cidades. Chegando às cidades estes não encontram respostas aos seus sonhos interioranos. Assustam-se; há falta de emprego; passam a reunir-se nas periferias. Ainda não se vive nalguns estados uma situação semelhante ao Sudeste ou Sul do Brasil, principalmente nas grandes cidades, mas não há dúvidas que caminhamos para ver a formação do “cinturão” como o das grandes cidades do nosso Brasil, com suas vilas ou condomínios fechados. A cidade se enche de marginalizados do mundo rural e o mundo dos abastados então cria os seus condomínios fechados, alienando-se a esta realidade.

É preciso repensar a pregação, a teologia, o culto, a evangelização, o ensino e a forma de ser igreja neste novo contexto. É necessária uma teologia da cidade ou, clarificando, uma teologia pastoral na e da cidade. Para muitos o inferno já está na cidade, no entanto, a educação teológica precisa ensinar e treinar seus alunos não somente para evitar o inferno escatológico, mas também o “inferno das cidades”.

4- A globalização trouxe a necessidade de conhecer o outro, do diálogo, do relacionamento, da parceria, das tribos, das ONGs, dos movimentos pelos direitos dos diversos grupos sociais. A pós-modernidade trouxe o declínio dos apologetas. A sociedade se une em torno do bem comum. Não há mais tempo para apologias, mas procuram-se teólogos e pastores que saibam liderar e amar. O mundo contemporâneo exige dos “representantes da teologia” que se envolvam numa rede de pessoas, que busquem o bem comum sem abrir mão dos valores centrais da fé cristã. Não se pode apresentar a verdade sem antes conquistar o coração do outro. O mundo contemporâneo não somente constrói a pergunta racional “isso é verdadeiro?”, mas também deseja saber se isso “serve para o coração”, para o mundo emocional. Não é somente a razão, mas também a emoção. A teologia precisa responder à mente, ao coração e à práxis. A educação teológica deve ser de tal forma ampla que seja capaz de alcançar o ser humano de forma integral: pensar, sentir e agir.

5- É necessário responder a uma pergunta crucial: que tipo de pastores, teólogos ou líderes das comunidades cristãs estão sendo preparados para o mundo eclesial? Enxergamos realmente o século 21 ou ainda estamos presos a um modelo pastoral do século 20 trazido na implantação do protestantismo do século 19, mas que para muitos ainda continua sendo o modelo: um pastor generalista, “mil e uma utilidades”, que tem como prolongamento esposa e filhos que também são “funcionários” da igreja, porém, sem receber salário. Um líder com uma visão de todas as atividades eclesiais, que soluciona todos os problemas, pois nele estão centradas todas as informações necessárias e que passou por uma escola teológica que tem em sua ideologia perpetuar tal modelo ministerial. Se essa visão ainda continuar, a formação teológica que temos é para um mundo que já não existe. É uma formação anacrônica.

Concluindo, para o preparo e formação de uma liderança do século 21 é preciso descentralizar, desconstruir e orientar para que resultados sejam alcançados e não ofertar atribuições denominacionais. Que nossos líderes sejam proativos e que mobilizem a igreja de forma que seja culturalmente relevante num mundo dinâmico e, em razão disso, esta seja ágil nas mudanças. Assim, assistiremos a implementação de uma visão ampla do Reino de Deus e não a limitada ação da igreja dentro de quatro paredes, exclusiva de um determinado grupo. Sabe-se que a igreja é um organismo dinâmico como o corpo físico que nasce, cresce se reproduz e morre. Estes ciclos são marcados por mudanças.

Este é o desafio que se apresenta, e acredito que podemos começar esta mudança a partir de nosso estado, por isso, precisamos nos perguntar: estamos dispostos a mudar?

JOSÉ MIGUEL M. AGUILERA

Pastor, diretor da Escola de Teologia da PIB de Campo Grande (MS)


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatia.com.br

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