quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Um mal chamado Teologia da Prosperidade



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Escrito por FRANCISCO HELDER SOUSA CARDOSO
12-Feb-2009

Deixando de lado os aspectos históricos e mais amplamente teológicos que envolvem a Teologia da Prosperidade, gostaria de convidar o nobre leitor a, de forma mais leve, tentar decifrar comigo parte do enigma que envolve este intrigante e avassalador fenômeno.

Quem nunca ouviu falar das promessas sedutoras de certas denominações que, como numa feira, oferecem de tudo, a todo preço, na tentativa de atrair a disputada clientela? Recentemente, um amigo do Distrito Federal, por e-mail, disse-me que quase batera o carro quando vira, em letras garrafais, na porta de uma dessas igrejas, o atraente apelo: “Aqui, dízimo apenas 6%”. Ali o movimento e empolgação dos “crentes” era, segundo ele, intenso! Acha engraçado? Também achei. De fato, “seria cômico se não fosse trágico”.

É exatamente aí que identificamos um grave problema: Todas as denominações sérias, que prezam pela pregação da sã Palavra, têm sofrido com o êxodo religioso dos “caçadores de milagres”. E não é brincadeira disputar com os pesados métodos de disseminação “doutrinária” de algumas delas, que se apossam, especialmente, de privilegiados momentos no rádio e televisão.

Vemo-nos, diante disso, desafiados a oferecer ao rebanho cristão alimento sólido para suas almas. Mas não é tarefa fácil. Não fosse a já raquítica disposição de cada um para, per si, encontrar a verdade madura, inalterada e fortalecedora, temos ainda que nos municiar para combater a pior das pragas: as malditas heresias (ou, ai de nós, os hereges!).

Heresias são, em termos simples, deturpações da verdade. Não simplesmente negação, mas uma violação ou alteração de seu real significado. As heresias financiadas pela Teologia da Prosperidade, como uma avalanche, têm soterrado as nossas igrejas, minado a inteligência de nossos fiéis, e castrado qualquer possibilidade de existência de mentes capazes de analisar criticamente os fatos, por mais simples que sejam.

As heresias normalmente se manifestam de forma sutil, vestidas em trajes familiares, burlando até as mentes cristãs mais piedosas e acuradas. Ficamos sem defesa. Como uma mortal dose de veneno que, uma vez ingerido, espalha-se paulatina e mortalmente pela corrente sanguínea, as deturpações bíblicas, uma vez acolhidas nos seios eclesiásticos, têm a capacidade de fazer ruir alicerces aparentemente inabaláveis, fadando-os ao iminente fracasso.

Claros exemplos são vistos nas igrejas movidas por “campanhas”. O número de campanhas (ativismo) na igreja evangélica brasileira para muitos tem sido sinal de vitalidade, quando na verdade é sintoma indiscutível de fraqueza. Se os pastores tratam os fiéis como consumidores, estes vão sempre procurar pelo mais conveniente (trânsito religioso). Daí as campanhas mirabolantes...

Outra estratégia destes é a intimidação persuasiva. É mais fácil lidar com um auditório amedrontado e “submisso” que, como marionete sem cérebro, empreende a busca diária pelas orientações dos seus manipuladores, para realização de atraentes e espetaculares “movimentos e atitudes de fé”. Acerca disso, faço coro com o pr. Ricardo Gondim, articulista da revista Ultimato, a fim de afirmar que “somente quando tivermos coragem de fazer teologia crítica seremos como a alvorada de uma bela manhã”.

Estão adestrando tolamente muitos dos nossos membros, ensinando-os a serem clientes cativos de uma igreja mercantilista. E, hoje, mais do que em qualquer outro momento, sofremos vendo o nosso Deus sendo negociado a preço irrisório. Pessoas se aproximam dEle não por seus méritos ou santos atributos, mas pelo que Ele pode dar... Uma mesquinha e medíocre relação de interesse.

Uma vez que tais líderes já venderam sua honra, alma e pudor, vendem ainda o pouco que, aparentemente, lhes resta: a Palavra de Deus. Esta é permutada por vergonhosos valores monetários, ambição maior dos pseudolíderes eclesiásticos.

E nós pensávamos que a Igreja Católica Romana, no tempo das indulgências, é que era perversa. Vemos, porém, que a Igreja Romana perde feio para os modernos mercadores da fé, que, além da “salvação”, vendem a cura de parentes, libertação de vícios, reconciliação com o amor rebelde, paz familiar, prosperidade empresarial e por aí vai... São mais opções que as do famoso mercado Ver-o-Peso, de Belém (PA).

Mas, o que dizer sobre tais líderes? Se fosse desafiado a numa palavra descrevê-los, indubitavelmente, diria: crápulas. Se fossem duas as palavras, diria também mercenários... Há uma gama de expressões cabíveis e perfeitamente aplicáveis a tais indivíduos. Mas paremos por aqui! Não vamos baixar o nível de nossos escritos.

Creio ser importante alertar a que não nos preocupemos demasiadamente com eles, pois, em pouco tempo, receberão de Deus seu “galardão”.

Como alento final, refrigera-nos a alma as palavras do próprio Jesus, alertando que esses e outros tipos de “joio”, que teimam em crescer no seio da seara do Senhor, serão, no devido tempo, definitivamente ceifados e, com justiça, aniquilados (Mt 13).

Qual seria, enfim, a resposta para todas essas inquietações? O pr. Ricardo Gondim, citado anteriormente, afirma enfaticamente que “não existe uma resposta pronta”. Acredito que sua intenção é provocar inquietação nas futuras gerações, fazendo-as repensar os alicerces basilares de sua fé.

Precisamos abraçar uma teologia séria, bíblica, mais crítica e consistente. E é necessário coragem para fazer isso, pois o auditório de nossas igrejas pode esvaziar-se... E conseguir posicionar-se serenamente diante disso é cada vez mais difícil; e tal sentimento é, pasmem, apenas mais um dos frutos dessa maldita teologia.

FRANCISCO HELDER SOUSA CARDOSO

Bacharelando em Teologia (FATEBE), presidente da Juventude Batista do Pará (JUBAPA)

fheldersc@yahoo.com.br


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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