quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Uma relação privilegiada



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Escrito por MARCOS AMAZONAS
11-Feb-2009

Texto bíblico: João 10.14-15

No ano de 1988, tive o privilégio de participar de uma semana missionária na PIB de São Gonçalo (RJ), na altura pastoreada pelo saudoso pr. Mauro Israel. Eu era seminarista, tinha saído de Manaus para viver no Rio. A igreja da qual era membro em Manaus tinha 60 membros e fui parar numa igreja que tinha 2 mil e naquela semana, mais precisamente naquele domingo, a assistência era de, aproximadamente, 2.500 pessoas. Eu tinha a responsabilidade de interpretar o missionário Peter Fisher da OM. Eu tremia muito, como se diz lá no Amazonas, tremia mais do que vara verde, mas pela graça de Deus o programa decorreu dentro da sua normalidade.

Quando terminou o culto, fomos para a porta a fim de cumprimentarmos as pessoas. Fiquei entre o pr. Mauro e o Peter. As pessoas começaram a sair após o poslúdio e eu com vontade de sair correndo, pois nunca tinha visto tanta gente na minha frente. Estávamos ali a receber os cumprimentos e cada pessoa que saía eu ouvia o pr. Mauro cumprimentá-la pelo seu próprio nome e ainda perguntava por membros da família. Aquele homem me cativou. Disse para mim mesmo: tenho que ter esta capacidade. Quero ser um pastor como ele. O fato é que não sou como ele. Tenho dificuldade em guardar nomes e isto é muito complicado. Pastores precisam conhecer suas ovelhas. Devem conhecê-las pelo seu próprio nome.

O Senhor Jesus, o Bom Pastor, diz que conhece as suas ovelhas e nós, pastores, que temos o Mestre como nosso modelo, precisamos conhecer as nossas ovelhas. Entretanto, vejam que o texto continua e diz que as ovelhas também conhecem o seu pastor.

Nesses 12 anos aqui em Portugal, nunca fomos como família ao Brasil e todas as vezes que temos de ir os motivos não são nada agradáveis. A única vez que fomos sem ser por motivo de doença foi quando Débora nasceu e Lílian foi com ela e Matheus apresentá-la à família. Outra vez fui sozinho para pregar no aniversário da minha igreja do coração. Em maio passado estive em Manaus. Meu pai tinha sofrido mais um AVC. Seu quadro era muito grave e lá fui eu ver meu velho. Fui para despedir-me do meu amigo, colega, irmão, pastor e pai. Fui para estar com aquele que foi o meu herói e que me influenciou ao ponto de querer fazer um curso de mecânica só porque ele tinha uma oficina. Estive todos os dias no hospital. Falei com o meu velho e mesmo sem ele falar comigo sei que privamos de momentos especiais. O fato é que encontrei um pastor amigo, que me contou uma história interessante. Uma noite, fomos comer quibe. No restaurante ficamos a falar e lá pelas tantas ele disse que foi pastor de uma igreja por minha causa. Achei graça. Rimos um pouco e ele então me contou a história.

Ele foi convidado para pregar naquela igreja e depois a igreja procurou-o para saber se ele aceitava ser o seu pastor. E disseram que desde a primeira vez que ele tinha ido lá, eles tinham vontade de que ele fosse o seu pastor. Ele achou estranho, mas não disse nada. Enquanto conversávamos, ele perguntou se eu tinha ido àquela igreja e eu disse que sim. Ele riu e disse-me que tinha certeza disso. Depois me falou que a igreja o convidou para pastorear pensando que estava me convidando. Rimos muito com essa história. É verdade que temos alguma semelhança, mas há uma diferença enorme entre o nome Marcos e Francimar. A igreja não me conhecia e também não o conhecia. Jesus diz que as ovelhas conhecem o seu pastor.

Nesse texto, Jesus está falando do falso ensino. Falando contra líderes que só desejam tirar proveito do povo. Ele os chama de mercenários. Pessoas que não estão interessadas em cuidar do rebanho. Elas querem apenas tirar proveito do rebanho. Entretanto, o Senhor diz que é o Bom Pastor e como tal conhece suas ovelhas e elas o conhecem, também. Há entre eles uma relação harmoniosa. Eles vivem uma relação privilegiada.

É sobre isto que desejo refletir. Quero olhar para este texto e ver o que ele nos ensina sobre a relação entre o pastor e o seu rebanho e vice-versa.

Vejamos então o que podemos aprender com esta declaração do Senhor

1- A relação entre pastor e ovelha será privilegiada quando eles se conhecerem. Iniciei contando duas histórias. Uma que enfatiza um pastor que conhecia os membros da igreja que pastoreava. Outra que falava de uma igreja que não conhecia aquele que desejava que fosse o seu pastor e, por isso, chegou ao ponto de convidar outro pensando que era a mesma pessoa.

A questão que se apresenta é a seguinte: Como é que a igreja pode conhecer o pastor e como o pastor pode conhecer o rebanho que o Senhor lhe concedeu?

Creio que existem algumas respostas. Quero apenas desafiá-los e fazê-los refletir sobre o desafio de conhecer e ser conhecido. Vejamos as respostas:

a) É preciso correr o risco de abrir a sua vida. Para que haja conhecimento é preciso se expor. Expor-se é correr o risco de ser ferido. É correr o risco de ficar decepcionado.

b) É preciso desenvolver intimidade. Intimidade não se adquire nos domingos. É fruto de uma caminhada conjunta. Ela surge dos momentos partilhados. Das refeições conjuntas, dos silêncios partilhados e das tristezas divididas. É verdade, pastor também fica triste, sofre e sofre muito. Ele é um ser humano como outro qualquer. É essencial que haja intimidade para que o pastor conheça a igreja e a igreja o conheça.

c) É preciso valorizar o outro. Pastores devem valorizar as ovelhas. Precisam amá-las profundamente, mas as ovelhas precisam amar o seu pastor. Não é abraçá-lo no domingo e passar a semana inteira sem lhe fazer uma chamada telefônica. Não é dizer que ele é uma bênção no dia de culto, mas em casa falar mal dele. É preciso valorizar e exaltar o outro.

Creio sinceramente que estes três aspectos ajudam e muito no conhecimento mútuo. Eles promovem o crescimento relacional.


2- A relação entre pastor e ovelha será privilegiada quando refletir a relação que existe entre Pai e Filho. Que desafio! Jesus diz que esse conhecimento mútuo que existe entre o pastor e suas ovelhas é como o que existe entre o Pai e Ele próprio. Que responsabilidade!

Será que já paramos para pensar neste aspecto?

A relação entre pastor e igreja deve mostrar a harmonia que existe em Deus. Por isso, é tão importante o fato de nos conhecermos mutuamente. Conhecermo-nos intimamente.

O profeta Oséias diz o seguinte: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Os 6.3). É importante dizer que estas palavras soam no vazio. O povo está longe do Senhor. Como afirma Crabtree: “Estas palavras são nobres, mas foram proferidas muito tarde, quando Israel não tinha mais a força moral de livrar-se do seu conceito pagão do caráter de Deus, e pôr em prática a sua resolução. Há sempre pessoas que sabem citar grandes doutrinas teológicas sem o entendimento da sua significação, ou sem vontade de viver de acordo com a sua confissão” (A.R. Crabtree, em O livro de Oséias). Um povo que não conhecia o Senhor. Estava longe do seu pastor.

Lembrem-se: a relação existente entre nós deve espelhar a relação harmoniosa que há em Deus. É algo profundo e íntimo.

Não esqueçamos que o termo “conhecer” é o mesmo utilizado para relação sexual (Gn 4.1; 17; 16.4; 30.4; Rt 4.13; 1Sm 1.19). A ideia é de casamento, intimidade profunda. “Afinal, Deus está preocupado com um casamento. Por isso a perseverança, à qual a primeira linha do versículo convida, é mais adequada ao lado divino, fazendo uso das belas metáforas do sol, que é certo, e das chuvas que trazem transformação” (Derek Kidner, em A mensagem de Oséias).

Conhecer o Senhor é ter intimidade com Ele. É estar envolvido numa relação profunda, que exige fidelidade. Pastor e igreja, conheçam e prossigam em conhecer o Senhor. Mostraremos ao mundo que conhecemos o Senhor pela maneira como nos tratamos. Mostraremos à sociedade que conhecemos o Senhor e temos intimidade com ele, a partir do nosso relacionamento. O mundo saberá que temos intimidade com o Senhor, quando olhar para nós e ver a nossa intimidade e o amor que existe entre nós.

Que desafio nos é proposto. Conhecermo-nos profunda e intimamente como o próprio Deus. Sem mistérios, sem máscaras, sem medos. Se vivermos esta realidade, seremos um testemunho para o mundo.

CONCLUSÃO

A relação entre pastor e igreja é uma relação privilegiada. É uma relação que promove crescimento e se desenvolve através da mutualidade.

As ovelhas esperam ser aparadas e cuidadas. Elas querem ser protegidas e alimentadas pelo pastor. Ele precisa conhecê-las para suprir suas carências e saber quando elas estão alegres, tristes, doentes. É preciso ter intimidade para cuidar do rebanho.

O pastor espera que as ovelhas cresçam e procriem. Elas precisam aumentar o rebanho. Ele espera obter seu sustento através do seu rebanho. Ele dedica-se às suas ovelhas, mas espera que elas tragam felicidade e segurança para ele.

A relação entre pastor e igreja precisa ser profunda e íntima para que o mundo veja o agir de Deus no meio da igreja e assim creia que o Pai enviou Jesus. Que haja essa relação em nosso meio.

Que Deus nos abençoe!

MARCOS AMAZONAS

Pastor, colaborador de OJB


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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