quarta-feira, 25 de março de 2009

Discípulo para sempre



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Escrito por SYLVIO MACRI
03-Mar-2009

O cristão é um eterno aprendiz, pois todos os dias se depara com novas situações que exigem uma resposta sua e nem sempre está preparado para tanto. Por isso precisa de conhecimento e treinamento, enfim, precisa de preparação como diz 1Pedro 3.15: “Antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós”.

Pedro estava escrevendo em um contexto de crise. Os cristãos estavam sendo perseguidos por causa da sua fé e muitos estavam em estado de perplexidade por não se sentirem preparados para pensar e agir nessa situação. Aliás, o apóstolo já havia dito, em 2.21, que seus leitores deviam tomar Jesus como exemplo de como enfrentar a perseguição.

Para o cristão a vida não pode ser compartimentada em áreas separadas e não relacionadas. A família, o trabalho, a escola, a religião, o lazer, a vida particular são integradas numa só experiência: a fé num Salvador pessoal, que é Jesus Cristo, a comunhão com um Deus pessoal, que é o Deus Pai, e a direção de um espírito pessoal, que é o Espírito Santo. Sendo isso inescapável, é melhor que o admitamos e procuremos fazer a coisa certa. Mesmo os não cristãos sabem disso, e estão sempre nos cobrando coerência.

Mas o problema é justamente como fazer a coisa certa. Como podemos pensar e agir como cristãos verdadeiros em face da complexidade de decisões que temos que tomar a cada dia? Buscando conhecimento e treinamento em Deus, na sua Palavra e no compartilhamento de nossas experiências com o corpo de Cristo. No versículo acima citado encontramos a maneira pela qual o crente é capacitado, a natureza e objetivo da capacitação, seu objeto e seu assunto. Vejamos isto mais detalhadamente.

O verbo “santificar” geralmente é usado na Bíblia com referência ao ser humano, ou a algum objeto, no sentido de “purificar”, “aperfeiçoar”, “separar”. Quando Pedro diz “santificai a Cristo”, acrescenta “como Senhor”, porque quer significar que devemos honrá-lo como Senhor de tudo, obedecer aos seus mandamentos e reconhecer sua direção em todas as circunstâncias da vida, inclusive no sofrimento e na perseguição. Quando Pedro diz “em vossos corações”, está ensinando que Cristo deve estar entronizado no íntimo da nossa personalidade. Quanto mais identificado com Cristo, tanto mais capacitado será o crente.

A natureza dessa capacitação é uma permanente disposição do crente, que não se afligirá diante das situações novas; ele estará “sempre preparado para responder com mansidão e temor”. O objetivo é reagir com tranquilidade e segurança diante da necessidade de tomar uma decisão, ou diante do questionamento e mesmo hostilidade das pessoas à nossa volta. Isto diz respeito não somente a palavras, mas principalmente a atos. Estar sempre preparados é estar com a resposta pronta, mas uma resposta que demonstre tanto amor ao próximo como obediência a Deus.

O objeto da capacitação é o serviço e o testemunho aos nossos semelhantes, e seu assunto é a esperança. O propósito do crente é amar a Deus e ao próximo, sendo este “todo aquele” que precise de uma resposta. Resposta cujo conteúdo deve ser sempre de “esperança”. A razão por que os cristãos vivem de maneira diferente, num mundo conturbado e sem esperança, impressiona as pessoas e propicia oportunidades sem fim de testemunho e serviço. Para aproveitá-las devemos estar preparados.

Além de 1Pedro 3.15, há outras passagens do Novo Testamento que falam sobre a capacitação do cristão. Por exemplo, nas cartas pastorais de Paulo a Timóteo e a Tito aparece três vezes a expressão “preparados para toda boa obra”, em contextos diferentes, mas complementares.

Em 2Timóteo 2.21, ele diz que o crente pode tornar-se um “vaso de honra, santificado e útil ao Senhor” e, portanto, pronto para realizar toda boa obra, purificando-se dos desvios doutrinários e das perversões da fé. Isto nos parece bem atual, pois ultimamente temos visto muitos crentes confusos, porque malensinados, que reagem de maneira estranha aos princípios da Palavra de Deus, quando confrontados com os problemas da vida. Para sermos capacitados para toda boa obra, devemos voltar à pureza doutrinária e deixar de lado superstições, práticas mundanas e métodos espúrios.

Em 2Timóteo 3.17, o apóstolo diz que o ensino, a repreensão, a correção e a instrução na justiça que temos na Palavra de Deus, têm o objetivo de que “o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra”. Em outras palavras, para haver capacitação, é necessária uma busca permanente da Bíblia, uma intimidade com as Escrituras. São elas, com a ajuda do Espírito Santo, que irão nos ensinar, evidenciar nossos erros, consertar nossas vidas e prover-nos de princípios de retidão. Cristão que não lê e segue a Bíblia, é cristão incapacitado.

Em Tito 3.1 Paulo fala do cristão capacitado para toda boa obra num contexto de cidadania. O crente faz parte da “nova humanidade” recriada em Cristo (veja os vs. 4 a 8). Esta foi a única maneira que Deus achou para acabar com a depravação generalizada da “velha humanidade”. Sabemos, por exemplo, que não adianta demitir os corruptos e prender os bandidos, pois logo surgirão novos corruptos e novos bandidos. É preciso transformar as pessoas. O cristão deve ser uma prova viva de que Deus pode transformar qualquer um em cidadão ordeiro, honesto, pacífico, altruísta, construtivo, colaborador, interessado no bem-estar do próximo, enfim, o cidadão que todos queremos ser.

Por último, queremos dizer que nenhum cristão será verdadeiramente capacitado se não tiver uma verdadeira vida de oração.

Após três anos de discipulado com Jesus, os apóstolos ainda não estavam totalmente capacitados para vencer suas batalhas. Isto ficou evidente na sua última reunião antes de Jesus ser crucificado. Jesus os convocara ao Jardim de Getsêmane e, ali chegando, pediu a três deles (Pedro, Tiago e João) que ficassem vigiando, enquanto orava. O momento era crucial para Jesus, pois estava travando uma tremenda batalha com Satanás, que queria desviá-lo da cruz porque sabia que ali seria derrotado. Para vencer este combate Jesus precisava orar, o que fez três vezes, pedindo ao Pai que, se possível, a cruz fosse evitada, mas, ao mesmo tempo, submetendo-se à sua vontade. Jesus achou forças na comunhão com o Pai para prosseguir até a cruz, e assim realizar a obra de salvação da humanidade. Nos intervalos entre os três períodos de oração voltava-se para os discípulos e os encontrava dormindo. Que tristeza! Numa das horas mais difíceis da sua vida terrena, Jesus não teve o apoio de seus discípulos.

A razão deste fracasso foi explicada pelo próprio Cristo, quando disse: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). Para vencer as batalhas decisivas, não são suficientes um preparo doutrinário nem um treinamento tão rico como tiveram os discípulos. A mais sincera devoção, a mais ardente fé e o melhor conhecimento, infelizmente, não têm sido de muito valor quando o homem sucumbe à sua própria fraqueza. É preciso vigiar e orar, para não ser surpreendido pelo inimigo e cair. A oração é uma tremenda experiência de comunicação entre o ser humano – fraco, limitado – e o Deus Todo-Poderoso, Pai amoroso que conhece as nossas fraquezas e limitações e nos outorga força e poder para vencê-las. É pela oração que permanecemos ligados a Deus e recebemos esta energia poderosa para vencer a tentação.

O cristão realmente preparado para servir coloca Deus em primeiro lugar, o próximo em segundo e a si mesmo em último lugar. Ele sempre procura semear a esperança, porque sabe que só Cristo pode dar uma nova vida ao ser humano. E é na Palavra de Deus e na oração que ele busca recursos para a sua capacitação.

SYLVIO MACRI

Pastor da IB Central de Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro (RJ)

sylmacri@globo.com


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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