segunda-feira, 16 de março de 2009

A força do voluntariado (final)



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Escrito por JOÃO PEDRO GONÇALVES
02-Mar-2009

11. Descubra onde estão os voluntários. Já afirmei anteriormente que é responsabilidade do líder chamar os voluntários. Mas, como encontrá-los? Em primeiro lugar, dê critérios claros que você exige para alguém se engajar em um ministério. Para alguns ministérios exige-se um maior preparo e amadurecimento na fé. Em outros, um novato ou visitante pode se engajar. Idade cronológica ou espiritual não deve se tornar critério definitivo para alguém ser aceito ou rejeitado no trabalho voluntário. Uma criança pode oferecer pão para alimentar multidões; uma pecadora pode limpar os pés de alguém; uma adúltera pode ser usada para trazer outras pessoas a Cristo; um novo convertido (sem até mesmo ser batizado) pode mudar a concepção de diversas cidades acerca de Jesus.

Para descobrir os voluntários, faça perguntas às pessoas. Os membros da sua igreja conhecem uns aos outros melhor que você. Eles sabem a formação e as habilidades de cada um, o que eles aprenderam a fazer, onde e com que trabalham. Também conhecem os sonhos de alguém. Tudo isso pode ajudar você na escolha dos voluntários. Timóteo fora escolhido por Paulo porque os irmãos “davam bom testemunho dele”. Quer dizer, ele era recomendado pelos irmãos que o conheciam. Barnabé queria que Paulo levasse a João, chamado Marcos. Ainda que Paulo não tenha aceitado, ele recebeu uma oferta de alguém acerca de um terceiro para o trabalho voluntário.

12. Voluntariado e estrutura da igreja. Normalmente, a estrutura de uma igreja está voltada para o mando. Todos mandam, todos fiscalizam, todos pedem conta, relatórios. Todos aprovam ou reprovam o relatório. Nesse sistema, o pastor fica como o responsável por executar todas as decisões tomadas nas assembleias. Assim, perpetuamos a ideia que o pastor é o único que pode fazer as coisas, pois ele é o profissional pago para isso.
O mais importante de tudo é que a igreja seja liberada para servir. Que a estrutura da igreja facilite e incentive o serviço, não o controle. Quando nos ocupamos em controlar, não há espaço nem mentalidade para servir. Quando todos mandam, só o pastor serve. Nós fomos chamados para servir, não para mandar.
O serviço tem as suas sutilezas. Muitas vezes, em nome do serviço, acabamos mandando e controlando. Dizemos que estamos servindo, mas estamos perpetuando uma estrutura de controle, não de serviço. É preciso resistir a isso. Às vezes, a fronteira é muito flácida entre uma coisa e outra.

13. Encontre o melhor para o seu voluntário. Cada um de nós tem um jeito de ser, uma peculiaridade. Cada um foi dotado por Deus de uma paixão que só nós temos e que outros não têm. Deus nos fez assim para que tenhamos interesses e sirvamos em causas diferentes. Alguns gostam de mexer com coisas, gostam de organizar, arrumar, mudar, montar, fazer trabalhos manuais e preferem ter os outros longe de si. Outros, preferem trabalhar com pessoas, ouvir vozes, interagir. Pergunte ao voluntário como ele se sentiria mais confortável ao realizar as suas tarefas no voluntariado. Neemias e Esdras são exemplos de interesses diferentes. Neemias era “voltado para a tarefa”, ao passo que Esdras gostava de trabalhar com as pessoas. As tarefas poderiam até ficar para depois. Neemias era capaz de sacrificar as pessoas em função de uma atividade, Esdras preferia manter a equipe unida!

14. Ministérios não são cargos. Os cargos são funções dadas por uma comissão que alguém elegeu para uma determinada tarefa e por um determinado tempo. Um ministério é dado por Deus para uma pessoa para a vida toda. Um ministério só acaba por desistência ou morte da pessoa. Uma pessoa pode assumir um cargo sem querer, por pressão, por votação. Um ministério surge primeiro no coração da pessoa.
Não é difícil encontrar alguém em um cargo, desestimulado, já no mês de março – ele recebeu esse cargo na virada do ano. O pior é saber que terá pela frente vários meses, mais da metade do ano para continuar a realizar uma atividade que não lhe diz respeito, não tem a sua cara, pois foi imposta pela comunidade.
Um ministério surge a partir da descoberta dos dons, que foram dados por Deus para que a pessoa fosse capacitada a fazer o que faz. Descobrir os seus dons é uma fase importante para saber o que se vai fazer, da mesma forma que um tipo de consultoria é importante para se colocar em prática aquele serviço dentro dos dons do voluntário.

15. Voluntariado e comunhão. As pessoas querem ser úteis, mas, acima de tudo, querem comunhão. Ninguém permanece muito tempo em um trabalho voluntário se não tiver comunhão com as pessoas com quem servem juntas. Ora, sabemos que a comunhão não acontece de forma automática, portanto, é responsabilidade do líder provocar intencionalmente a comunhão entre os voluntários. Um copo de café ou um refrigerante antes ou depois da atividade do voluntário é sempre um momento para interagir com outra pessoa. Promova intencionalmente momentos de comunhão entre os voluntários. Convide outras pessoas a servirem lanches àqueles que estão servindo na igreja.

16. O voluntariado e o poder de Deus. Não podemos servir a Deus na nossa própria força, dependendo de nossa habilidade ou treinamento. Sabemos que a obra de Deus deve ser feita com o poder e a direção de Deus. Todo ministério na igreja deveria ter um tempo para oração, para pedir a Deus a providência e suficiência a fim de fazer o trabalho. Nesse tempo, os voluntários aprendem que, se Deus não os ajudar, eles ficarão mais cansados e frustrados ao servirem a homens que nem sempre voltam para agradecer, e, não raras vezes, reclamam do trabalho do voluntário. A oração é um momento para se entregar a Deus e servir os homens como se fosse o próprio Senhor.

17. O voluntariado e o crescimento espiritual. As pessoas não apenas querem servir e ter comunhão no ministério. Elas querem crescer espiritualmente. Às vezes, a decisão de servir é fruto de um coração que está buscando ser útil para Deus. Portanto, cada ministério, qualquer ministério, precisa de tempo para estudo bíblico. Quando os voluntários descobrem que servir é uma atitude desejada e elogiada por Deus e quando eles veem isso na Bíblia, servem melhor e com mais vontade. Portanto, um tempo para estudo bíblico é essencial, mais que o próprio exercício do trabalho. Os voluntários não poderiam servir, ensaiar, receber, montar, arrumar, ornamentar sem que as pessoas daquele ministério estivessem buscando, juntos, o crescimento espiritual e as bases bíblicas para aquilo que fazem.

18. Agregue novos voluntários. O ministério é dinâmico. Ele deve receber sempre novas pessoas que se juntam para ajudar, manter comunhão, treinar e crescer. Ainda que alguém tenha começado um ministério, aquele serviço não passa a ser um feudo pessoal. A melhor forma de não tratar o ministério como posse é pregar sempre sobre a necessidade de incluir novas pessoas no ministério. Além disso, cada pessoa que chega empresta ou dá um tom diferente em um ministério. Assim, o serviço fica sempre enriquecido por novas pessoas que chegam. Fazemos com que as pessoas novas ou antigas se agreguem a um ministério através do ensino e da pregação constante. Também promovemos um evento que chamamos de feira de ministério. Isso funciona como um tipo de exposição e demonstração do trabalho de cada ministério. Naquele dia as pessoas são expostas ao trabalho que um ministério já faz, ao mesmo tempo em que são desafiadas a experimentarem um novo trabalho. Sempre temos mais e mais gente sendo unida a um ministério.

19. Recompense o voluntário. Esta é uma parte controversa. Alguns dirão que se eu recebo elogio aqui na terra, já terei comprometido o galardão lá no céu. Mas estou convencido que a Bíblia manda que nos estimulemos – o estímulo nos ajuda a continuar –, honremos a pessoas que se dedicam a Deus e aos irmãos, que recomendemos as pessoas que servem, que reconheçamos publicamente aqueles que têm trabalhado para o Senhor, que nos elogiemos uns aos outros.
Os finais das cartas paulinas são pródigas em elogios, menções honrosas, bênção, reconhecimentos a pessoas que se dedicaram a um determinado ministério na igreja. Timóteo, Tíquico, Áquila e Priscila, Febe, Urbano, Epafrodito, Onesíforo, Maria, Urbano, Rufo, a mãe de Alexandre, Marcos... e tantos outros personagens foram elogiados. Além do reconhecimento pessoal, as comunidades primeiras de cristãos são recomendadas a fazerem o mesmo.
Jesus e os apóstolos elogiaram as pessoas, o trabalho que fizeram, a fé que demonstraram, a perseverança ou uma declaração de fé no poder de Deus. Da mesma forma, a Bíblia manda que usemos a prática da bênção e do elogio, em vez da reclamação e da murmuração ou cobrança.
Na nossa igreja temos o costume de fazer isso de diversas formas: e-mails, cartas, cartões de natal, presentes ou elogios públicos mesmo. Uma vez ao ano celebramos a vida e o trabalho dos voluntários com um jantar onde honramos a todos os voluntários da igreja. A cada ano fica mais caro pagar a conta (tivemos cerca de 80 pessoas no último). Como os líderes principais da igreja pagam esse jantar, a cada ano a conta fica maior.
Normalmente fazemos essa festa na segunda segunda-feira do mês de dezembro de cada ano. Fechamos um restaurante que fica por nossa conta naquela noite. É caro, mas, quando vemos que ao longo dos anos temos pessoas mais animadas que desanimadas, que mais e mais pessoas se agregam no trabalhado voluntário, quando percebemos que cerca de 80% da nossa membresia está envolvida no trabalho voluntário, esse valor é pago com prazer. Você pode encontrar formas alternativas de honrar seus voluntários.
A força do voluntariado (final)
JOÃO PEDRO GONÇALVES
Pastor, filósofo, doutor em Sociologia

EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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