segunda-feira, 16 de março de 2009

A força do voluntariado



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Escrito por JOÃO PEDRO GONÇALVES
02-Mar-2009

Em um ano em que a ênfase da nossa denominação recai sobre o aperfeiçoamento do povo de Deus, discorrer acerca do tema voluntariado na igreja torna-se de fundamental importância.

O assunto voluntariado ganhou, nos últimos anos, status de uma das tarefas mais relevantes para o homem moderno. O homem pós-moderno descobriu que os bens materiais e até mesmo o capital social que adquiriu junto com a educação e o trabalho não lhes satisfazem plenamente. Esse homem pós-moderno descobriu que a vida é mais que um contracheque. Por isso é comum ver pessoas famosas (artistas, atletas) envolvidas em trabalhos humanitários, comunitários, associando-se a uma atividade já existente, ajudando ou criando sua própria fundação ou ONG.

No Brasil, a cada 10 pessoas, sete querem se engajar em algum trabalho voluntário. Na igreja não é diferente. É interessante, porém, que nós líderes vivemos reclamando da ausência de voluntários, da desmotivação e do pouco caso de pessoas que poderiam se engajar e não se engajam. A boa notícia é que essa lógica pode mudar. É possível, sim, termos um alto índice de pessoas engajadas no trabalho voluntário.

A necessidade de agregar grande número de voluntários é assunto bíblico. Não é moda, nem modismo, nem coisa que se poderia chamar de mundanismo. Moisés teve que aprender, desde cedo no ministério, a importância dos voluntários. Jesus, antes de começar e ao longo do seu ministério, escolheu voluntários que o ajudassem. O apóstolo Paulo tinha um bom número de voluntários trabalhando com ele. O mesmo apóstolo recomendou a Timóteo que não negligenciasse o trabalho dos voluntários.

Visto que o assunto tem tal relevância na Bíblia, considero que a presença, aumento e manutenção dos voluntários no ministério deve ser tratado no nosso contexto. Ofereço, então, à guisa de contribuição, alguns conselhos para o trabalho com voluntário.

1. Coopte as pessoas. A primeira tarefa do líder é cooptar voluntários que o ajudem no ministério. Sem muitos voluntários, seu ministério periga. Você não conta com muitos voluntários? Gostaria que tivesse mais gente ao seu redor dando um “up” no seu ministério? Então, essa tarefa é sua! Convoque os voluntários. O sogro de Moisés deixou bem claro que a tarefa de agregar, cooptar, arrebanhar mais voluntário era do líder: “Escolha, dentre o povo, os homens”. Essa tarefa é do líder.

2. Desafie as pessoas. Com exceção de algumas poucas pessoas, normalmente você não encontrará quem se ofereça para algum trabalho sem ser chamada e desafiada. Você precisa desafiar o seu povo a se engajar no trabalho voluntário. As pessoas gostam de desafios. Todos nós temos necessidades de dar uma contribuição significativa no reino de Deus e no mundo. No entanto, alguns estão acomodados. É necessário que o líder desperte as pessoas para o engajamento no voluntariado. As pessoas também estão esperando receber um desafio dos seus líderes.

3. Saiba como pedir. Peça de forma que as pessoas vejam que vale a pena se engajar. Não respondemos a apelos que não convencem. Não atendemos a apelos onde o líder fala de forma negativa acerca do ministério que será exercido pelo voluntário. Uma coisa é dizer: “Alguém quer ficar no estacionamento para receber as pessoas na hora do culto?”. Outra coisa é dizer: “Um bom sorriso, boas palavras de ânimo e de boas vindas são tão ou mais importantes para o visitante que o sermão do pastor. Você pode ser a pessoa que Deus vai usar para que o visitante volte ou goste de visitar a nossa igreja. Eu quero desafiar a você a ser essa pessoa”. Você mesmo deve querer se voluntariar a um apelo desses.

4. Dê o norte. Ao fazer o desafio, diga às pessoas o que você espera delas. Diga-lhes o que você quer e espera que elas façam. Pessoas não entram em projetos em que não acreditam. Muito menos se engajam em desafios em que não sabem onde vão chegar e o que devem fazer. Algumas vezes, por falta de norte, não temos respostas de voluntários. As pessoas estão dispostas a darem a sua vida por uma causa. Mas é verdade também que ninguém quer “pagar mico” ou passar a vida com a mancha de ter sido um fracasso ou não ter sabido fazer alguma coisa. Se não dermos o norte, o medo do fracasso inibirá o surgimento dos voluntários.

5. Treine seus voluntários. A falta de treinamento mata o voluntário e ele desiste antes do tempo. Muitos pastores fazem como Davi fez com Urias: não dão ao voluntário armas de ataque, nem de defesa. Deixa que eles lutem com suas próprias forças contra o inimigo. O treinamento, além de capacitar o voluntário, faz com que ele veja que você acredita, investe e o valoriza. Quando Jesus chamou os seus discípulos à beira-mar, deu-lhes, junto com o convite, uma promessa de treinamento: “eu vos farei pescadores de homens”.

Nós temos a tendência de achar que um bom cristão é aquele que é frequentador da EBD, por exemplo. A EBD tem o seu lugar. No entanto, devemos atentar para o ensino bíblico. Deus nos deu profetas, apóstolos, evangelistas, pastores e mestres não foi somente para o nosso aperfeiçoamento, mas para que, com o aperfeiçoamento, os santos “desempenhem o seu ministério”. O fim do ensinamento é adestrar pernas e coração, não encher a cabeça das pessoas. A Bíblia diz que o saber incha, faz mal. O amor edifica. O amor mostra nas atitudes práticas aquilo que aprendemos na teoria. Nosso ensino deveria focar mais nas habilidades, que somente nas competências. É preciso integrar o ser, o saber, o saber fazer e o relacionar-se.

6. Delegue autoridade e cobre responsabilidade. Uma pessoa envolvida em um ministério é a mais apta, a mais capacitada para saber como seu ministério funciona melhor. Aprendi esse princípio ao ler o livro: Este barco também é seu (D. Michael Abrashoff). Portanto, dê ao seu voluntário a autoridade de fazer o seu ministério funcionar da melhor forma possível. Desafie o voluntário com palavras do tipo: “Isso é seu. Faça o melhor. Faça como se tudo dependesse de você para poder funcionar”. Pessoalmente, não gosto de ir a uma lanchonete onde não posso negociar com o atendente e poder pedir um pouco mais (um ovo, uma fatia de bacon). O mesmo vale para lojas onde não posso negociar um desconto para pagamento em dinheiro. Quando o vendedor me diz que isso é só com o gerente e que esse gerente não está, suspeito logo que eles são ruins de negócio. Quem está na linha de frente deve receber autoridade para fazer funcionar da melhor forma possível o seu ministério, resolver problemas e conflitos.

Depois de você oferecer liberdade e autonomia para se fazer melhor, cobre a responsabilidade de cada um. Se o voluntário tiver uma meta, um prazo, uma ideia ou coisa parecida, ajude-o. Dê apoio e cobre mais tarde as ações. Converse com ele para que ele mesmo sugira algumas mudanças e aperfeiçoamento no desempenho do seu ministério.

7. Avalie. Sem avaliação não se vai muito longe. As companhias de voo aprendem com cada desastre aéreo. Elas estudam cada possível causa do desastre com um avião até que descubram os erros cometidos e como sanar essa dificuldade. A avaliação faz parte do progresso do voluntário. Com a avaliação, cada voluntário pode levantar seus pontos fracos e pontos fortes e pode receber novas seções de treinamento.

8. Sirva ao seu voluntário. Bil Hybels, Phil Hodges e Ken Blanchard escreveram um livro chamado Liderando com a Bíblia. Nesse livro, eles descrevem o tipo de líderes que chamaram de “líderes gaivotas”. Esses líderes são aqueles que aparecem só na hora em que o voluntário erra – como o gerente que aparece na hora em que o funcionário erra – aí, chegam, fazem um monte de barulho, gritam na cabeça do voluntário, fazem um outro tanto de sujeira e desaparecem para aparecer de novo quando o voluntário tornar a errar.

Segundo esses autores, o funcionário se sentiria mais à vontade, sem medo de errar, mais seguro e mais motivado, se os gerentes trabalhassem para ajudar o funcionário, para corrigir a ação errada, corrigindo-o para que esse funcionário melhore. Se o funcionário fizer alguma ação errada ou equivocada, a culpa deveria ser, em último lugar, de quem o treinou, pois treinou errado. Em caso de erro, o funcionário deveria ser chamado e retreinado. Isso lhe daria segurança e confiança nas próximas vezes que tiver que fazer a mesma ação que errou anteriormente. Além disso, ele veria seu chefe como parceiro, ajudador, e não como líder gaivota. Eu sugiro que troquemos os termos gerentes por pastores e funcionário por voluntário. O princípio é o mesmo.

Quando Priscila e Áquila ouviram que Apolo pregava bem mas lhe faltava alguma coisa na pregação, trouxeram-no até a sua casa, lhe explicaram melhor acerca de Jesus. E, uma vez que fizeram o conserto em particular, o encorajaram a prosseguir pregando abertamente o evangelho. Apolo se sentiu valorizado e encorajado a fazer o seu trabalho de pregador itinerante abençoando vidas em outras cidades do império romano.

Uma boa forma de o líder servir ao seu voluntário é oferecer-lhe oportunidade de viagem para participar de um congresso, comprar e presentear livros; patrocinar estudos temáticos, como a descoberta dos dons espirituais e ajudar as pessoas a se engajarem em algum ministério que a igreja já tenha ou permitir que ele mesmo comece um ministério de forma experimental.

9. Permita que o voluntário mude. Nem sempre o voluntário sabe exatamente o que deseja fazer, onde pode servir. Ele só quer servir. Depois de algum tempo, para que não desanime, ofereça-lhe a oportunidade – depois de uma conversa (consultoria) – para que mude de ministério ou que mude o procedimento dentro do ministério.

10. Permita que o voluntário erre. Às vezes, os líderes são impiedosos com os que erram. Por isso afirmei que o medo do fracasso inibe o surgimento do voluntário. Mas nós poderíamos ver o erro como oportunidades de crescimento. Aristóteles afirmou que a única maneira de não errar é nunca tentar fazer nada, ficar parado. Errar não é fracassar. O fracassado é aquele que leva no seu caixão sonhos que nunca colocou em prática, com medo de errar. O cemitério é o lugar mais rico do mundo, pois ali estão milhares de sonhos que poderiam inclusive melhorar a vida das pessoas na terra, mas, por medo, aquelas pessoas nunca tentaram. Morreram com os seus sonhos.

A força do voluntariado

JOÃO PEDRO GONÇALVES

Pastor, filósofo, doutor em Sociologia


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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