segunda-feira, 16 de março de 2009

OS DESAFIOS DO MINISTÉRIO PASTORAL: Lições das partidas de futebol



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Escrito por FRANCISCO HELDER S. CARDOSO
02-Mar-2009

Coitadinho do irmão Kaká. Mesmo com a sua cumulada categoria e excelente desempenho nos gramados, não conseguiu levar novamente o título de melhor jogador do mundo, no ano de 2008. Mas, também, ele não contava com a insubordinação do seu corpo que, “covardemente”, teimou em não corresponder às exigências do futebol profissional. Do 1º lugar do mundo declinou, involuntariamente, para a 4ª colocação.

Mas não adianta ficar triste. Afinal de contas, o que se avalia não são os préstimos brilhantes e os momentos colossais que ele proporcionou às vibrantes torcidas quando a bola acasalava-se, perfeitamente, aos seus pés. E, sim, o momento atual. Dessa forma, não mais o Kaká, mas o português Cristiano Ronaldo tornou-se o alvo número um da poderosa (e não menos ingrata) mídia. Ele, o lusitano, é a bola da vez.

Sei que o ministério pastoral não é uma partida de futebol. Também sei que as igrejas não são (ou pelo menos não deveriam ser) como os torcedores frenéticos e enlouquecidos que lotam arquibancadas. Mas algumas vezes percebo que, curiosamente, vivemos a mesma mediocridade encabeçada por alguns torcedores. Eles têm a intrigante capacidade de, em um mesmo jogo (por exemplo, uma final de campeonato), acolher no coração tão opostos sentimentos: amor e ódio; glória e vergonha; aclamação e repúdio. Basta apenas o árbitro apitar sinalizando o final da partida que logo se verá a velocidade meteórica com a qual eles definem e distinguem mocinhos e bandidos.
Vemos, dessa maneira, os jogos como muito mais do que um ambiente de salutar prática esportiva. Eles são, quase sempre, a arena do egoísmo. A mais fiel retratação do doentio e perverso sentimento da cobrança, da exigência mais atroz e animal, da ingratidão. A mesma torcida que ovaciona jogadores, vociferando em poderoso coro seus nomes, diante de uma fase difícil dos mesmos atletas, ensaiam um novo grito e então explodem: “Burro, burro, burro!”.
Não quero forçar a barra nesta comparação. Também espero não parecer neurótico e nem financiar tal sentimento em seu coração. Confesso, no entanto, que tenho medo de algum dia perder a lucidez, ceder à tentação e desejar, quem sabe, “dançar” (ou melhor, jogar) conforme a música entoada pelas torcidas que lotam as arquibancadas eclesiásticas. Tenho medo, pois ela é uma torcida que deseja que você conduza o time à elite da religião, focalizando muitas vezes esse fim e fomentando-o a alcançá-lo, não importam os meios. Isso é doentio. Deus nos livre desta cancerosa tentação. Vade retrum, Satanás!
Cuidado! Essa não é a essência do futebol. Apreciar um esporte que se apresenta nesses moldes não nos torna mais nobres do que os que se empolgavam na arena do Coliseu, vendo leões destroçarem homens vivos. E aquilo (acredite!) não passava de uma forma de diversão... A essência do futebol é aquela partida gostosa, que se joga com amigos, descontraidamente, e que tem como maiores objetivos fortalecer os laços de amizade, lubrificar a estrutura corpórea e espantar o tédio (Puxa! Olhando por esse prisma, mesmo sem ter habilidade, senti até vontade jogar...)
Pastorear atormentado pela sombra e gritos da tirânica torcida gera males inimagináveis. Ceder às egoístas exigências das igrejas que, às vezes, teimam em nos ver como atletas infalíveis só nos faz sofrer, a longo prazo. Por isso, lá vai uma sugestão com valor de medalha de ouro: Não faça das suas vitórias, das jogadas inacreditáveis e das exuberantes performances pastorais o combustível que impulsiona sua igreja e seu ministério, pois poderá ocorrer (e não será tão difícil) de você não conseguir manter esse padrão e eles, por conseguinte, o encararem como uma simples carta fora do baralho. Dúvidas? Não precisa nem pagar pra ver...
Aproveitando as imagens “futebolísticas”, motivo-o a calçar as chuteiras da humildade, vestir a camisa do santo e puro Evangelho e não apenas jogar, mas lutar desesperadamente para fazer de sua igreja uma comunidade de amor, onde pessoas sejam mais importantes do que coisas e títulos, e onde se prega e vive fielmente a Palavra de Deus.
Fama, bens, status, “prestígio” denominacional, glória humana: nenhum desses troféus tem valor diante do tempo... Pondero nas palavras do pr. Ricardo Gondim, escritor que sabiamente orienta a que vivamos, como pastores, de modo a ser conhecidos em apenas dois lugares: no céu e no inferno. No céu para sermos admirados e no inferno para sermos temidos. Os que conseguirem alcançar esse patamar terão vencido de goleada o jogo contra o inferno e o mal e perceberão a nobreza de talvez terem perdido o mundo, mas, sábia e heroicamente, preservado sua alma (cf. Mt 16.26).
É já que o “papo” é esporte, convido para instruir nosso time de pastores um experiente técnico que já orientou desde jovens soldados a pequenos grupos de “atletas” das distintas Europa e Ásia, e hoje influencia gente do mundo inteiro. Diz ele com categoria: “Nesse jogo, façam tudo o que vocês puderem por causa do Evangelho (...) Vocês sabem que muitos correm no estádio, e todos eles querem o prêmio, mas apenas um o leva. Se esforcem de tal maneira que esses vencedores sejam vocês. Para isso, disciplinem-se rigorosamente; focalizem apenas o troféu celeste e empenhem todo o esforço necessário a fim de alcançá-lo. (...) Joguem da melhor maneira possível; joguem até o final da partida. Mas lembrem-se do mais importante: Jamais abram mão da vossa fé” (paráfrase livre e particular de 1Co 9.23-26 e 2Tm 4.7).

FRANCISCO HELDER S. CARDOSO
Presidente da Juventude Batista do Pará (JUBAPA), Bacharelando em Teologia (FATEBE/STBE)
fheldersc@yahoo.com.br

EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br
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