segunda-feira, 16 de março de 2009

A troca da Bíblia pelo crachá



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Escrito por EDSON JORGE DE SOUZA
03-Mar-2009

Antes de iniciar a leitura deste texto, quero lhe dizer que não há aqui pretensão em tecer críticas a qualquer igreja, pastor ou situação específica. O texto pretende servir como reflexão e análise de uma tendência que percebemos em nosso corpo batista e, creio, tem causado danos tanto a pastores, quanto a igrejas. No contexto contemporâneo, sabemos que a luta pela sobrevida é aguerrida. Nossas famílias precisam do sustento, nossos filhos da educação, somos sobretaxados pelas tarifas públicas e outras mazelas financeiras cotidianas.

Essas circunstâncias têm levado muitos pastores a procurar algum tipo de atividade no mercado de trabalho secular para cobrir seus orçamentos deficitários. Entretanto, percebe-se que ao aliar esses atributos e responsabilidades mercadológicas ao ministério pastoral, este sofre perda maior e mais relevante. No afã de satisfazer às exigências impostas pelo trabalho secular, a igreja corre risco de se tornar “bico”.

Pastores exercendo atividades paralelas ao ministério, certamente, terão semana exaustiva, por conta da natureza de seu trabalho. Consequentemente, exteriorizarão seu cansaço físico e mental nos cultos dos finais de semana. Comprometerão a qualidade e profundidade de seus sermões que passam a ser elaborados “nos joelhos” e não “de joelhos”. Visitarão seus membros com menor frequência e comprometerão o acompanhamento e crescimento espiritual dos neófitos. Aquilo que é proposto como provisório e temporário pela igreja, quando da posse de seu pastor, deixa de ser exceção e torna-se regra, passando a ser o “modus operandi” atual dessas igrejas. Dessa forma, cria-se um ciclo onde nem as igrejas crescem e prosperam, tampouco seus pastores podem abandonar as ocupações mercantis.

Por analogia, seria como se Moisés ou Josué criassem camelos e cabras no deserto para negociarem com os mercadores andantes. Seria como se Jesus, “nas horas vagas”, trabalhasse na “Carpintaria São José” para complementar a renda da família.

Ministros chamados e convocados por Deus para liderarem seu povo não têm “tempo vago”. Calcule o dia de trabalho de um pastor em tempo integral de uma igreja: contínua oração e reflexão bíblica, preparo de sermões e estudos, planejamento de crescimento e maturação do corpo cristão, preparo de liturgias, capacitação de membros comprometidos com as funções disponíveis na igreja local, treinamento de liderança e responsabilidade para com os deveres da igreja como organização jurídica, sem enumerar outras tarefas. Além de tudo isso, ficar de plantão para qualquer situação de emergência com membros e não-membros da igreja que possam precisar de ajuda e acompanhamento espiritual a qualquer hora diurna ou noturna. Em resumo, não sobra muito tempo para qualquer atividade mercantil.

Certo pastor dizia que mantinha um telefone para atender somente os chamados dos membros de sua igreja e que interromperia qualquer atividade secular, no momento, para atendê-los. O pastor de rebanho de ovelhas mencionado por Jesus Cristo em sua parábola não esperou pelo balido da ovelha desgarrada. Antes, porém, percebeu sua ausência e foi buscá-la.

Assim, estamos diante de um dilema que não podemos permitir que se perpetue em nossas igrejas batistas. Precisa-se encarar essa situação “de frente”. As igrejas devem repensar seu compromisso com seus pastores e esses, o seu com Deus, como ministros do evangelho e, como diz o apóstolo Paulo, que possam viver dele.

Enquanto a Bíblia for trocada pelo crachá, o gabinete pastoral pelo escritório e o terno pelo uniforme, teremos igrejas e pastores perdendo o foco de sua constituição e atributos, não produzindo resultados eficazes em suas empreitadas.

EDSON JORGE DE SOUZA

Membro da 2ª IB em Alfenas (MG)

edsonteacher@yahoo.com


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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