sábado, 4 de abril de 2009

É necessário passar por Samaria



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Escrito por NILSON DIMARZIO
23-Mar-2009

Pegando um gancho nas "Gotas Bíblicas" do pastor Olavo Feijó publicadas no OJB 7 (15/02) observo que o texto de João 4.4 declara que Jesus sentiu a necessidade de passar por Samaria. Por que? Certamente não foi por questão geográfica, como comenta William M. Hull: "Ao levar seus discípulos para o norte Jesus teve que passar por Samaria, não por necessidade geográfica, mas com uma compulsão divina.

O peregrino judeu típico evitava deliberadamente esta rota direta, optando viajar pela Transjordânia, ao oriente". Exatamente em razão desta compulsão divina é que Jesus fez questão de passar por Samaria, com motivação espiritual, pois desejava ensinar aos discípulos (não apenas aos daquela época) várias e preciosas lições. Na verdade ele iria quebrar vários preconceitos, como veremos a seguir.

Preconceito contra as mulheres

Os judeus não falavam com uma mulher em público. Os mais radicais não faziam isto nem mesmo com suas esposas. Entretanto, Jesus quebrou este preconceito ao falar com a samaritana. Entre os fariseus este preconceito era tão forte que, segundo o doutor Russell Shedd, para aqueles enfatuados líderes religiosos "seria melhor queimar a Torá (a lei de Deus) do que entregá-la a uma mulher". Jesus condenou tal atitude abjeta e absurda, resultante de uma sociedade machista na qual as mulheres eram tratadas como objeto ou como seres inferiores. Não apenas no episódio com a samaritana, mas, ao longo de seu ministério, Jesus procurou sempre dignificar a mulher, aceitando a cooperação feminina (desde o nascimento até a ressurreição) e mostrando assim a todos que diante de Deus não há superioridade masculina ou feminina e que homens e mulheres podem, e devem, servir aos interesses do seu reino. Portanto, ao falar à mulher samaritana, com sua extraordinária visão Jesus compreendeu que estava diante de um brilhante ainda embrutecido, mas que iria brilhar intensamente uma vez lapidado, como de fato aconteceu. O capítulo 4 do Evangelho escrito por João relata de forma brilhante como aquela mulher se tornou uma bênção nas mãos de Deus, testemunhando do poder de Jesus aos seus concidadãos. O mesmo poderá acontecer atualmente com as servas do Senhor que estiverem dispostas a cumprir o propósito do Senhor para as suas vidas (conforme Atos 1.8).

Preconceito Racial

Havia uma antiga querela entre judeus e samaritanos. Ela é produto da forma como se formaram historicamente os samaritanos. Com a derrota do Reino do Norte para os assírios muitos judeus foram deportados para a Babilônia. Como estrangeiros foram levados para colonizar Israel e ajudar a manter a paz. Com esta mistura de povos passaram a acontecer casamentos mistos entre judeus remanescentes e estrangeiros. Daí resultou um povo mestiço que se estabeleceu no Reino do Sul, cuja capital era Samaria. Por esta razão, os samaritanos eram considerados cerimonialmente impuros pelos fariseus e demais líderes religiosos. Além disto, eram tidos como traidores do povo judaico.

Não foi, pois, sem razão que a samaritana estranhou que Jesus tenha lhe dirigido a palavra.

"Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (Porque os judeus não se comunicam com os samaritanos)" (João 4.9). Entretanto, durante aquele diálogo Jesus mostrou que estava acima do preconceito racial que divide e afasta as pessoas além de originar ódio, contendas e guerras individuais e coletivas. Ele, o Príncipe da Paz, veio ao mundo para estabelecer a paz do homem com Deus, do homem consigo mesmo e do homem com seus semelhantes.

Vale lembrar que o preconceito racial sempre foi um entrave ao plano de Deus de salvar a humanidade. Basta lembrar o exemplo negativo de Jonas, que mandado por Deus a pregar a um povo estrangeiro em Nínive decidiu desobedecer tomando um navio para Társis. Apenas após duras penas é que resolveu obedecer. Assim, por sua instrumentalidade, milhares se converteram naquela cidade. Mas, mesmo assim, o seu preconceito racial não lhe permitiu que se alegrasse com a grande vitória. Pelo contrário, sentiu-se decepcionado e desejou morrer! Como é terrível este preconceito que separa as pessoas e enche os corações de ódio. Em nossos dias há milhões de pessoas dominadas por este vírus mortal, pois ainda não conhecem aquele que disse: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22.39).

Preconceito religioso

A mulher samaritana fez alusão a este preconceito ao dizer a Jesus: "Nossos pais adoravam neste monte, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar" (João 4.20). O ódio racial levou judeus e samaritanos a divergirem sobre o local apropriado para a adoração a Deus. Os samaritanos, por se sentirem desprezados e considerados inimigos do povo judeu, construíram um templo no monte Gerizim para ali cultuarem ao Senhor, enquanto para os judeus o lugar de adoração era exclusivamente o templo de Jerusalém. Tal discordância acirrava ainda mais a antiga querela entre eles.

Porém, Jesus quebrou mais este preconceito ao mostrar que a verdadeira adoração independe de lugar. O mais importante é a sinceridade no coração dos adoradores, "em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem" (João 4.23).

Infelizmente, ainda hoje o preconceito religioso é a causa da cegueira espiritual de muitas pessoas que pensam que só se pode adorar a Deus ou orar em determinados lugares. É comum em nosso meio ouvirmos pessoas dizerem: "Eu preciso ir à igreja para rezar". Tal pensamento decorre da prática da idolatria, de pensarem que rezando a um ídolo ou a uma imagem estão orando a Deus.

Porém, Jesus esclarece esta questão ao dizer: "Deus é espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade" (João 4.24).

Aprendamos com Jesus que o mais importante, em termos de adoração, não é o lugar, mas a intenção e o sincero desejo de estar em comunhão com Deus, de ouvir sua voz e de atender o seu chamado. Ele nos chama a passar por Samaria, para aprender a superar os preconceitos (os nossos ou de outrem), com o propósito de ganhar almas para Cristo. Há muitos samaritanos à espera de que seja comunicada a eles a mensagem de vida e esperança eterna.

É necessário passar por Samaria.

NILSON DIMARZIO

Pastor da Igreja Batista em Vila Mury (RJ)

ndimarzio@bol.com.br


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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