sábado, 4 de abril de 2009

José Cardoso Sobrinho ou “ah se fosse pai!”



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Escrito por daniel
23-Mar-2009

Vez por outra fico chocado com o poder desumanizante, e porque não dizer demonizante, que a religião pode ter. No Islã temos os terroristas que matam em nome de “Alá”. No protestantismo vemos o afloramento do machismo. No catolicismo está em voga a medievalização da Igreja. O que todos têm em comum? O fundamentalismo religioso.

Prova recente e grosseira deste pensamento fundamentalista foi a declaração infeliz do arcebispo da Igreja Católica para Olinda e Recife, José Cardoso Sobrinho. Ao saber que uma equipe médica, num hospital público de Recife, estava autorizada pela Justiça a realizar um aborto em uma menina (de 9 anos!) violentada pelo seu padrasto e que, desafortunadamente, ficou grávida de gêmeos, dom Sobrinho declarou a excomunhão de todos que se envolveram nesta situação. Não que ser excomungado da Igreja Católica tenha algum peso, já que a Igreja não salva e que nem cadastro de sua membresia ela tem.

Entretanto, fico impressionado com o discurso hipócrita do arcebispo. Arvorando-se defensor da vida indefesa tornou indefensável uma menina sem proteção. Onde estava a Igreja Católica quando ela era seviciada? Onde estavam os párocos quando aquela menina perdia sua infância?

Aliás:

1- Que valor e apreço à vida tem algo que salva um e condena outro? No referido caso pretende salvar o feto e condenar a mãe?

2- Que valor à vida dá um sacerdote que, no auge de sua insensibilidade, ao invés de oferecer guarida e consolo à família traumatizada achincalha e apedreja pessoas que, pela debilidade na qual se encontram, deveriam ser cuidadas e não crucificadas?

3- Que valor à vida pode dar uma instituição milenar (Igreja Católica) que, numa clara demonstração de que o tempo nada a ensinou, prefere salvaguardar seu dogma à socorrer uma criança? Que valor à vida é este que preza mais uma vista (obtusa) de um ponto (dogma) do que a visão de uma criança necessitada?

4- Que valor à vida e que incoerência é esta que a Igreja Católica manifesta quando condena a atitude de uma família pobre, mas faz vista grossa aos abortos cometidos e confessados pelas jovens de famílias oligárquicas? Por que não condenar e divulgar com a mesma convicção o pecado dos mais favorecidos?

5- Que valor à vida é este que defende e celebra a consequência da violência e se cala diante da atrocidade que foi cometida contra aquela criança?

Não estou aqui defendendo o uso indiscriminado do aborto. Sou contra ele. Apenas quem alimenta a expectativa em ser pai e que já perdeu uma gravidez sabe como o aborto é frustrante. Contudo, não sou contra o bom senso, nem tampouco avesso à Justiça (e falo aqui da divina). Nada mais injusto do que o estupro desta menina. Nada mais justo do que preservar e salvar sua vida física e salvaguardar o que sobrou de sua vida emocional.

Termino esta breve reflexão dizendo que somente um arcebispo “sobrinho” podia fazer isto. Alguém acostumado com primos e tios, mas que “não é pai, nem mãe, nem filho”, tem maior facilidade em ser dogmático.

Que Jesus livre esta menina e cada um de nós, por extensão, desta nova violência, a sacerdotal!

SÉRGIO DUSILEK

Pastor, colaborador de OJB

sdusilek@gmail.com


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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