sábado, 18 de abril de 2009

Operação Valquíria



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Escrito por MACÉIAS NUNES
02-Apr-2009

Esteve em cartaz no circuito nacional o filme “Operação Valquíria”, dirigido por Brian Singer e estrelado por Tom Cruise e Kenneth Branagh. Baseado em fatos reais, revive o episódio no qual um grupo de conspiradores antinazistas planeja e executa o mais grave dos mais de 40 atentados levados (ou quase) a efeito contra Adolf Hitler no decurso de sua carreira, e dos quais ele escapou ileso.

Quem se interessa pela história da Segunda Guerra sabe que, em contraste com os adesistas de todos os matizes - inclusive religiosos -, a oposição a Hitler esteve sempre ativa na Alemanha, mesmo nos momentos de fastígio do III Reich, cujo projeto de poder previa a duração de mil anos. A abordagem ao assunto se justifica por duas razões de interesse teológico.
A primeira refere-se à conveniência da resistência cristã ao mal. No círculo dos conspiradores havia cristãos militantes, sendo o pastor e teólogo Dietrich Bonhoeffer o mais destacado de todos. A partir de certo momento Bonhoeffer entendeu que a única forma de deter a besta nazista era por meio da eliminação física de seu líder. Mais do que isto, concluiu ser seu dever como cristão contribuir para este objetivo, na perspectiva do mal menor. Para ele, era menor o mal de valer-se pessoalmente de métodos não cristãos para combater uma proposta política claramente anticristã do que deixar que esta proposta triunfasse por medo de pagar pessoalmente o preço de usar estes métodos. Por suas ligações com a resistência, acabou preso e sendo executado ao final da guerra, em abril de 1945.
A posição de Bonhoeffer é polêmica, mas é sempre preciso lembrar que ela só pode ser entendida no contexto da concepção de discipulado por ele defendida. Esta concepção pode ser definida como a personalização radical das relações entre quem chama e quem é chamado. O Cristo que chama ao discipulado não quer uma aquiescência passiva, genérica e vaga de quem é chamado. Ele exige adesão pessoal plena e incondicional, a todo risco. Como diria o próprio Bonhoeffer, “ele chama para vir e morrer”. Opor-se a Hitler dentro da Alemanha no auge do poder dos nazistas era praticamente suicídio. Os conspiradores entenderam que assassinar o Führer era a única forma de evitar o eventual triunfo mundial de uma ideologia maligna ou a destruição da Alemanha. O suicídio, no caso, era um preço a pagar, mas não o único. Para os cristãos havia o preço da incompreensão pela disposição de eliminar o mal usando as armas do mal. Contudo, esta incompreensão podia ser ao menos mitigada pelo fato de que todo o mundo cristão esperava que Hitler viesse a ser morto, ainda que pelos caminhos convencionais da guerra ou de um julgamento como o de Nuremberg.
Hitler sobreviveu à bomba que o coronel Claus von Stauffenberg deixou sob a mesa de mapas no Covil do Lobo, quartel-general na Prússia Oriental. A data era 20 de julho de 1944, mas não foi somente a partir daí que o líder nazista passou a se considerar um protegido de Deus. Antes disto ele já achava que passar incólume pelas várias tentativas de matá-lo só podia ser fruto de um desígnio divino. É aqui que aparece a nossa segunda questão teológica: os estranhos caminhos pelos quais a soberania divina se exerce no universo. A impressão que fica é que Deus de fato protegeu Hitler contra o mero e simples assassinato. Em várias ocasiões, sendo o retratado no filme “Operação Valquíria” a mais marcante delas, ele escapou miraculosamente, no último instante, de uma bala ou bomba. Era como se Deus o quisesse vivo a fim de que ele próprio, a Alemanha e o mundo vissem como acabam os que querem ser deuses por meios diabólicos.
Deus age de forma pedagógica - e a morte prematura de Hitler - isto é, antes que todos testemunhassem o desfecho da guerra através da qual os nazistas achavam que podiam dominar o mundo e substituir a Deus - não deixaria que a lição fosse plenamente assimilada.
Ressalte-se que os quatro principais líderes nazistas - Hitler, Goering, Himmler e Goebbels - cometeram suicídio. Isto também pode apontar para uma outra questão teológica, a de que os que fazem o mal o fazem primeiramente a si mesmos, ainda que sejam os últimos a morrerem numa guerra.
MACÉIAS NUNES
Pastor da IB do Leme (RJ) e membro do Conselho Editorial de OJB

EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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