segunda-feira, 16 de março de 2009

Uma questão de fé



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Escrito por CARLOS CESAR PEFF NOVAES
02-Mar-2009

Não demorou para que o Partido Cristão e a Sociedade Bíblica Trinitariana se unissem a fim de defender a existência de Deus utilizando as mesmas armas: vão espalhar seus cartazes em mais de 800 ônibus que circulam pela capital inglesa.

Entendo que, se os religiosos têm o direito de espalhar cartazes e outdoors em coletivos, fachadas, praças e muros proclamando as crenças que defendem, os ateus podem fazer o mesmo, dada a liberdade de opinião e expressão que a todos deve contemplar no estado de direito.

Somos obrigados, por exemplo, a conviver com programas televisivos que preconizam as formas mais supersticiosas de crença e devoção. Aqueles pastores desfilando com seus copos d’água abençoados, sais purificadores, sabonetes milagrosos e lenços prodigiosos repetem as mesmas e absurdas crendices contra as quais os próprios reformadores protestantes se levantaram.

No século 16, às vésperas do dia em que Martinho Lutero publicou as teses que deram início ao movimento reformado alemão, o católico João Tetzel deslocava-se pelas praças e ruas de Wittemberg a vender indulgências para a construção da Basílica de São Pedro, repetindo em latim o seguinte estribilho: quando o som das moedas no cofre soa, mais uma alma do purgatório voa.

Em Roma, os visitantes encontravam as veneradas relíquias dos mártires, pedaços da cruz de Cristo em quantidade suficiente para montar uma esquadra inteira de navios, a corda em que Judas se enforcou, a mesa em que o Senhor instituiu a santa ceia e dúzias de ovos do Espírito Santo – que assumira a forma corpórea de pomba por ocasião do batismo de Jesus.

É uma jocosa ironia da história que, justamente por influência dos evangélicos – que se dizem herdeiros dos reformadores –, renasçam essas antigas fórmulas medievais de mobilização da religiosidade popular.

Se através dos modernos meios de comunicação os novos pregadores medievais podem propagar suas crenças, convém que haja espaço também para religiosos conservadores, fiéis moderados, teólogos liberais, eclesiásticos em crise de fé e ateus confessos publicarem seus pensamentos e pareceres.

Especificamente na luta entre crentes e ateus, tudo se reduz a uma questão de fé. Nenhum dos dois lados possui elementos definitivos para comprovar o que afirmam. Caso houvesse provas da existência ou inexistência de Deus, o assunto estaria resolvido. Entretanto, nesse assunto, só é possível confessar a fé ou a incredulidade. E o resto é silêncio, como num bom drama shakespeariano.

É de se esperar, enfim, que os crentes respeitem a razão, pois se há um Criador, não foi sem propósito que concedeu aos seres humanos capacidade para refletir e questionar. E que os ateus respeitem a crença, já que também para negar a existência de Deus sem provas conclusivas é necessário partir de pressupostos de fé.

CARLOS CESAR PEFF NOVAES

Pastor da IB de Barão da Taquara, Rio de Janeiro (RJ)

http://carlosnovaes.blogspot.com


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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