sexta-feira, 1 de maio de 2009

Técnicas e contribuições de um psicólogo para o Aconselhamento Pastoral de adolescentes



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Escrito por MARCELO QUIRINO
22-Apr-2009

Entre alguns adultos há uma visão preconceituosa sobre a fase da adolescência, considerada por muitos como a fase da rebeldia. Por outro lado, há também uma visão preconceituosa do adolescente com relação aos adultos, vistos como aqueles que estão na fase da tirania.

Uma visão preconceituosa é o resultado da outra. É o que se pode chamar de conflitos de gerações. Na verdade não passa de um conflito de comunicações, mas não se resume somente a isto apesar de começar por aqui.

Essa visão preconceituosa de ambos os grupos - adolescentes e adultos - é o que não permite uma aproximação saudável e empática entre indivíduos que estão nestas duas fases da vida. Por vezes se faz uma aproximação desgastante e nada eficiente.

Se o aconselhador de adolescentes quiser proporcionar um Aconselhamento Pastoral (AP) eficiente deve, em primeiro lugar, despir-se dos seus preconceitos sobre este grupo para depois permitir-se compreender esse mundo de conflitos entre uma personalidade em formação.


Reações emocionais na adolescência

Muitas vezes o adolescente reage à incompreensão de sua vida psicológica e à falta de uma comunicação empática que verse sobre seu desenvolvimento e necessidade de independência.

O adolescente reage ao cerceamento da sua individualidade. A individualidade está relacionada à inserção grupal, à identidade e à sexualidade. O adolescente requer autonomia para estar em um grupo que o aceite, requer uma identidade reforçada por esse grupo e ainda busca a descoberta de sua sexualidade como forma de contribuir com sua identidade.

Buscar essa inserção num grupo social e buscar autonomia para que esta inserção aconteça e haja uma aceitação grupal não é nada demais.

O problema começa quando essa aceitação num grupo social é resultado de uma incompreensão no seio da família ou quando essa necessidade de aceitação grupal se alia à construção de sua auto-estima ou de sua identidade.

Como o adolescente está em processo de formação de identidade e de individualidade há uma alta sugestionabilidade para grupos de comportamentos desviantes como reação à tirania do autoritarismo dos pais que não o compreendem de forma plena.


Objetivos do aconselhamento com adolescentes

Portanto, uma função do aconselhamento é proporcionar ao adolescente uma visão introspectiva sobre si mesmo. Possibilitar que o adolescente se esclareça dos fatores de sua psique que fornecem estrutura à sua personalidade.

O aconselhador deve permitir ao adolescente uma conversa sobre si mesmo e consigo mesmo. Uma conversa sobre seus sentimentos, seus pensamentos e seus grupos prediletos. Além de tratar de sua relação com a autoridade parental e as razões de suas reações indisciplinadas.

Como a necessidade de aceitação está nesse momento ligada à auto-estima, não ser aceito pelo grupo é sinônimo de queda na auto-estima ou de depressão. Por isso a relação de aconselhamento deve tentar desvencilhar a necessidade de aceitação grupal da auto-estima do adolescente.

Alguns comportamentos de desafio de autoridade podem estar dirigidos à aceitação num grupo específico como uma forma de reação à sua busca pela individualidade que está cerceada na relação com o responsável.

Portanto, o papel do aconselhador é o de proporcionar a aceitação do adolescente no seio da família, pois é isto o que ele busca por vezes.

Caso o adolescente não seja aceito dentro de casa, busca aceitação num grupo como forma de reagir à autoridade constituída. Esta aceitação diz respeito ao amor prático e genuíno que Jesus pregava.

Muitas vezes a atitude de desfiador e de rebeldia é resultado de uma reação quanto à inabilidade dos pais de o aceitarem como um ser em desenvolvimento rumo à individualidade.

Os pais o cerceiam por demais e uma reação explosiva do adolescente é o resultado de um pedido de socorro que visa buscar o seu auto-desenvolvimento psicológico.

O aconselhador deve trabalhar com os familiares para ajustar a assessoria dos pais em direção à busca da individualidade em formação.

O objetivo do aconselhador é equilibrar para que não haja autoritarismo demais e nem libertinagem em excesso no processo de educação. Este é um dos desafios do aconselhador para essa fase da vida do ser humano que é a adolescência.

O aconselhador deve proporcionar um desenvolvimento saudável da individualidade do adolescente. Para isso busca o desempenho de um papel de facilitador e de assessor amigável, que se utiliza de princípios e de diretrizes bíblicas como parâmetros para o desenvolvimento dessa individualidade em formação.


O aconselhador e a comunicação em família

Algumas famílias são aparentemente equilibradas psicologicamente, mas os adolescentes buscam caminhos de desafio às autoridades. Nesse caso específico um mecanismo de comunicação e de conscientização do processo de desenvolvimento psicológico do adolescente pode estar em falha.

Ter uma família equilibrada não é sinal de adolescente equilibrado e formado nos caminhos do Senhor. Muitos pais não erram na educação dos filhos, mas apenas não a apresentam de forma justa e presente com qualidade especifica na comunicação.

O adolescente precisa aprender a voltar os olhos sobre si e seus sentimentos para que saiba lidar com impulsos e com necessidades de aventuras desmedidas que desconsiderem as limitações dos responsáveis. O aprendizado da introspecção (auto-análise) precisa vir da família.

Neste caso, o papel do aconselhador é oferecer à família um canal de comunicação que verse especificamente sobre a psicologia daquele adolescente em formação, que verse sobre seus sentimentos, suas emoções e seus comportamentos.

Não ser entendido e compreendido pode ser um sinal de rebeldia futura. A adolescência é uma fase na qual a necessidade de comunicar-se sobre si mesmo é alta, visto que é um processo de desenvolvimento psicológico muito grande.

Elementos do infante e da vida adulta se misturam, portanto, um olhar sobre si e sobre a própria psique necessita estar presente para um desenvolvimento mais saudável. Por isso essa comunicação deve versar entre o adolescente e a família e entre o adolescente e ele mesmo através da introspecção.


O aconselhador e a sexualidade na adolescência

Há a descoberta da sexualidade nessa fase, e a conversa sobre o próprio desejo é fundamental. Pais devem educar os filhos desde crianças para que se tornem adolescentes com mais conhecimento sobre a sua própria sexualidade.

Conversar sobre sexualidade não é somente oferecer informações, mas sim pôr o adolescente em contato com o seu desejo e com a forma com que se relaciona consigo e com os outros do sexo oposto.

Em alguns momentos, a necessidade de encontrar um namoro está inserida na ausência de vínculos afetivos no seio familiar. Nestes casos específicos, a saída está na busca de uma relação amorosa para a construção de laços afetivos compensadores da ausência familiar.

É importante que o aconselhador busque orientar a família do adolescente quanto à educação sexual de seus filhos. A função desta tarefa não é apenas de informação, mas também de confrontação.

Isto possibilitaria ao adolescente pôr sob a fala alguma necessidade não satisfeita que é buscada inadequadamente numa relação amorosa.


Os vínculos entre aconselhador e adolescente

A natureza do laço social entre aconselhador e adolescente deve ser de amizade, de confiança e aceitação total de pensamentos, mas não de comportamentos - o que significa uma correção com amor e uma limitação com compreensão.

O entendimento da própria fase de vida é essencial. Para isso a técnica de espelhamento da fala, dos sentimentos e das emoções se torna útil. Adolescentes podem ser incompreendidos, visto que estão entre a responsabilidade da vida adulta e a saída da infância.

A rebeldia pode ser um sinal de busca pela autonomia. Deve-se lidar com isso através de conversa empática, mostrando que seu mundo é entendido e compreendido de forma total e eficaz.

Muitos conselheiros cristãos falham com o aconselhamento desta fase, pois não fazem o primeiro passo de forma eficaz: demonstrar que os conflitos e questões psicológicas do adolescente são totalmente compreendidos e aceitos.

Um mito é que o adolescente não permite que se discorde dele, sendo rebelde e indomável. Esta não é uma característica que pertence somente a ele, mas pode ser resultado de uma relação interpessoal ineficaz, na qual a empatia do adulto não está presente.

Perceber que o aconselhador está sendo empático é muito terapêutico para alguns adolescentes. Perceber que o adulto compreende, que entende totalmente a problemática apresentada por ele já pode ser uma boa garantia de que o comportamento desviante será corrigido.


O aconselhador e o comportamento rebelde

A empatia do aconselhador deve preceder a autoridade. Autoridade e empatia caminham juntas, mas em alguns casos se percebe o autoritarismo e a antipatia na família, o que pode gerar estados de rebeldia no adolescente. Muitas vezes esse comportamento rebelde é sinal de incompreensão somente.

Portanto, em alguns casos, se o adulto mostra-se na relação como um amigo empático, essa rebeldia talvez se dissipe. Por vezes esse estado de rebeldia se extingue quando o adulto se mostra empático e neutro, sem críticas, mas com uma autoridade amiga e justa que conversa sobre o importante.

Não é a discordância do aconselhador em relação às atitudes do adolescente que vai proporcionar o estado de rebeldia, mas, antes sim, a incompreensão de seu estado psicológico atual, não deixando claro que o entende de forma plena.

A necessidade de ser entendido e aceito é muito maior do que a necessidade de auto-estima por um grupo de fora da família. Portanto, alguns adolescentes vão buscar fora o que não possuem na família: a aceitação.

Isto pode ser o resultado da inabilidade de a família proporcionar ao adolescente um olhar sobre si mesmo e sobre seus sentimentos, ou seja, não saber conduzir o adolescente para uma análise desse seu período de vida.

Vale deixar claro que compreensão e empatia não são sinais de libertinagem e liberalidade quanto à educação dos adolescentes, mas, antes, sinal de amor e de aceitação. Isto é tudo o que é necessário para esta fase da vida.

Como há uma personalidade em formação os elementos da infância coexistem com os elementos da vida adulta. Responsabilidade e entretenimento coexistem. O aconselhador deve esclarecê-los deste momento, apresentando-os não como características conflitantes, mas sim em desequilíbrio.

Em alguns casos o AP com adolescentes visa suprir o que faltou na família, em outros momentos municiar a família e em alguns casos fazer o papel que a família não pode alcançar por ter a situação de rebeldia saído do controle.


O aconselhador e os adolescentes com transtornos específicos

Adolescentes vítimas de violências necessitam de um suporte emocional para elaborarem o trauma e para, junto com os responsáveis, darem o sentido correto dessa experiência invasiva que é o ato violento.

Não permitir que o adolescente forme pensamentos de generalização - tal como todos os adultos são violentos - é o objetivo de um AP com adolescentes vítimas de violências.

A assessoria emocional e psíquica de um adulto se torna necessária nesses casos. A evolução rumo à inserção social normal será lenta e gradativa e a simples presença de um adulto pode proporcionar o suporte de que precisa o adolescente.

Já adolescentes portadores de transtornos mentais específicos carecem tanto, quanto um adulto, de inserção social que vise o desenvolvimento de tarefas que proporcionem desenvolvimento da auto-estima e do sentido de pertença a num grupo específico.

Numa situação de adolescentes portadores de transtornos mentais específicos, a tarefa de um AP é a de assessorar a inserção grupal e o relacionamento entre eles de forma saudável.


Os desafios para o aconselhador de adolescentes

Por fim, se percebe que essa é uma fase de vida que é marcada por preconceitos mútuos de adolescentes e de adultos. Uma fase da vida incompreendida e não-aceita tal como é. Uma fase da vida na qual se pressiona para ser aquilo que ainda não se é e a se deixar de ser aquilo que não se abandonou por completo, a fase adulta e a fase infantil, respectivamente.

Aconselhar a adolescência é permitir-se parecer um pouco com eles, é permitir-se voltar no tempo e questionar-se sobre os conflitos específicos dessa fase e se despir dos preconceitos que cerceiam o entendimento integral dessa fase específica da vida humana.

Aconselhar adolescente é assessorar o seio familiar no processo de educação do adolescente e possibilitar que se estabeleça um olhar crítico sobre as mútuas formas de comunicação, que se crie entendimento genuíno e a aceitação do processo de mudança.

Portanto, são esses os três fatores que ficam sempre comprometidos na família quando há a presença de um adolescente: a comunicação familiar, o entendimento mútuo entre pais e filhos e a aceitação da autonomia do adolescente.

Restaurar isto é o objetivo principal de um aconselhador de adolescentes, o que se faz quando o aconselhador possibilita ao adolescente expressar seus medos, receios das mudanças pela qual está passando no momento.

O aconselhador deve permitir que o adolescente, a partir da análise das relações sociais que estabelece e a partir da análise sobre os próprios sentimentos e pensamentos, se perceba enquanto um ser em desenvolvimento de identidade.

Esta comunicação saudável deve permitir o esclarecimento dos contratos familiares, o entendimento deve proporcionar um contato mais próximo entre a vida afetiva de pais e filhos e a aceitação visa estreitar os laços familiares e dirimir o medo que os pais possuem de perder uma criança que agora se torna um adulto autônomo e portador das próprias escolhas.

MARCELO QUIRINO

Psicólogo e membro da PIB do Guarani, em São João de Meriti (RJ)

quirino@ufrj.br

Site do Autor: www.marceloquirino.com


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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