sexta-feira, 1 de maio de 2009

Perdão tardio é melhor do que ausência de perdão



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Escrito por ELI FERNANDES DE OLIVEIRA
02-Apr-2009

Aconteceu no domingo dia 23 de novembro de 2008 na Igreja Batista da Liberdade durante o culto das 19h. Os membros da Igreja Batista Bandeirante, acompanhados do pastor Adelniso Ribeiro de Souza, vieram pedir perdão aos atuais membros da IB da Liberdade por uma falta do passado não cometida por eles. Os membros da Liberdade jamais haviam ouvido qualquer coisa a respeito do ocorrido muitas décadas atrás.

Vamos aos fatos. O pastor Adelniso, que, aliás, havia sido meu aluno na disciplina de Eclesiologia da Faculdade Teológica Batista do Estado de São Paulo (FTBESP), me procurou solicitando uma oportunidade para que sua Igreja pudesse pedir perdão à IB da Liberdade pelas discórdias que motivaram a saída de um grupo para fundar o que viria a ser, mais tarde, a IB Bandeirante.

Para inteirar-me melhor do que se passava fui aos nossos livros de atas e lá estavam registrados, historicamente, os fatos, os motivos e o tratamento dado à questão.

Tudo aconteceu numa assembléia de nossa igreja, nos idos de 1940, dirigida pelo pastor Erodice de Queiroz em reação ao parecer de uma comissão, acatada pelo voto da maioria, desaconselhando os crentes

a frequentarem cinemas aos domingos. Alguns irmãos de uma determinada família revoltaram-se com o parecer e, de forma deselegante para com o então pastor, passaram a se reunir em outro local.

Dois anos depois, em 1942, aqueles membros da IB da Liberdade se auto-organizaram, em clara atitude de rebeldia, com o nome de IB Bandeirante. Mesmo aconselhado diversas vezes por líderes da Convenção Batista do Estado de São Paulo (CBESP), este grupo nunca aceitou voltar e resolver suas pendências com a IB da Liberdade.

Agora, 66 anos depois, a IB Bandeirante reconheceu a falta grave que lhe deu origem. Seu ministério, desconfortado por um passado ainda em aberto, entendeu que não poderia ser jamais abençoado por Deus sem que experimentasse a grandeza desta reconciliação.

Em um lindo, comovente e inesquecível gesto, cerca de trinta irmãos vieram ao nosso culto com o intuito de remirem aquela falta e trazendo uma missiva que foi lida pelo pastor Adelniso. De pronto, a IB da Liberdade, numa demonstração do mais puro cristianismo, em pé e em lágrimas, aplaudiu aquele pedido de perdão que tinha o intuito de corrigir um erro cometido, mesmo que por outros, mas que tantos males gerou à pequena comunidade.

Mais importante do que o mérito da questão em si, de ir ou não ao cinema aos domingos, é a lição de como se deve proceder diante das decisões democráticas numa assembléia de igreja. Isto é, deve-se agir com o devido comedimento nas palavras e ações buscando sabedoria em Deus, arguindo com inteligência e fundamentações corretas, com a devida urbanidade e com polidez. E, quando for o caso, também saber voltar, como fez o filho pródigo, reconhecendo o erro, reconciliando-se e dispondo-se, inclusive, às reparações procedentes e à concórdia entre os irmãos.

A Igreja e a Bíblia são coisas sérias! A cruz é o preço do perdão! Igreja não é "negócio" que possa ser levado como se fosse possível calar a voz da consciência cristã ou subestimar as exigências éticas e morais contidas no ensino de Jesus, que disse: "Quando te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa diante do altar tua oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e depois vem apresentar a tua oferta" - Mateus (5.23-24). Com Deus não se brinca: Quem diz que está de bem com Deus e odeia seu irmão é mentiroso.

A IB Bandeirante consertou a sua história em humilde pedido de perdão, ainda que pelos erros cometidos 66 anos atrás não pelos atuais membros, e mesmo não havendo hoje sequer um deles na igreja. E a IB da Liberdade, emocionada, de pé e prorrompendo em incontidos aplausos, perdoou de pronto. A IB da Liberdade reconheceu-se igreja-mãe. A IB Bandeirante como igreja-filha.

Certamente este ato foi celebrado com firma reconhecida nos céus e acabou registrado nas atas eternas. Como escreve Arthur Pinero: "Perdão tardio é melhor do que ausência de perdão".

ELI FERNANDES DE OLIVEIRA

Pastor da Igreja Batista da Liberdade (SP)

eli.fernandes@libernet.org.br


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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