sexta-feira, 1 de maio de 2009

Um ano para olhar o céu!



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Escrito por LÉCIO DORNAS
22-Apr-2009

O Brasil participou entre 2 e 5 de abril das 100 Horas de Astronomia, o maior evento de divulgação astronômica de todos os tempos que ocorrerá em mais de 130 países como parte do Ano Internacional da Astronomia, comemorado em 2009.

O apelo da mídia durante aquela semana referiu-se ao dia 2 de Abril como o dia de olhar para o céu, porém esta é a ênfase de todo o ano de 2009. Naturalmente que é exatamente na observação do céu que a Astronomia encontra sua principal ocupação, portanto as 100 horas aludidas realçaram a importância desta milenar ciência.

Astronomia é, segundo a Nova Enciclopédia Britânica, “a ciência que lida com a origem, a evolução, a composição, a distância e a moção de todos os organismos e matéria dispersa no universo. Inclui a Astrofísica que discute as propriedades e a estrutura de toda matéria cósmica.”

Portanto, é sempre bom lembrar, a Astronomia nunca pode ser confundida com Astrologia, que é a “pseudociência que consiste em um sistema de tradições e crenças que afirmam que a posição aparente de planetas, Sol, Lua e outros corpos celestes, conforme vistos da Terra, influenciam na vida humana”, afirma a Wikipédia.

Porém, tanto a Astronomia quanto a Astrologia estão com os olhos atentos para o céu. Aquela com uma preocupação de natureza científica e esta meramente especulativa e intuitiva.

O olhar para o céu remonta aos tempos de Abraão. É muito interessante o texto de Gênesis 15.5: “Então o levou para fora e disse: Olha agora para o céu, e conta as estrelas, se as podes contar, e acrescentou-lhe: Assim será a tua descendência”. O desafio de Deus para o patriarca não teve nenhuma conotação astrológica. Parece ter sido totalmente de fundo astronômico. Abraão foi confrontado pelo próprio Criador com a realidade da imensidão do cosmos. Nem mesmo as estrelas podiam ser contadas o olho nu. Era o homem diante de sua primeira experiência de natureza astronômica. Instigante... o pai da fé num desafio científico.

O foco dessa experiência narrada no Gênesis era o desejo de Deus mostrar a Abraão a dimensão de sua bênção e dos seus planos para ele. Como a quantidade das estrelas, a posteridade de Abraão seria imensurável. Olhar para o céu foi revelador! Vale a pena lembrar, neste contexto, o Salmo 19.1: “ Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.” É isso que a Teologia nomina como revelação geral. Afinal de contas, olhar para o céu é, acima de tudo, encontrar-se com o Deus que se revelou.

Um outro texto não menos revelador de Deus é o de Atos 1.10 e 11: “Estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles apareceram dois varões vestidos de branco, os quais lhes disseram: Varões galileus, por que ficais aí olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.”

Nessa passagem da ascensão de Jesus, os dois varões vestidos de branco, possivelmente anjos, mensageiros de Deus, indagaram aos discípulos a razão de estarem olhando para o céu. Os olhos dos discípulos estavam fixos no céu, pois acompanhavam a ascensão do Senhor até seu desaparecimento. Eles estavam olhando para o céu, porém sem qualquer preocupação de natureza astronômica. Olhavam Jesus.

Considerando que estava por findar-se o tempo da convivência terreal com o Senhor Jesus, dá para imaginarmos tanta coisa passando pela mente dos discípulos enquanto o olhavam ascendendo ao céu. Não observavam o firmamento, mas notavam que Jesus subia na direção do Pai. Era o cumprimento das palavras do próprio Jesus: “... e quando eu for...”. Esse olhar para cima dos discípulos de Jesus nos revelou o início da expectativa cristã pela volta de Cristo, a qual coincidirá com o tempo do julgamento final e da inauguração da verdadeira vida, para os que crêem. Olhar para o céu é, portanto, deparar-se com a certeza do juízo de Deus e da eternidade com ele.

Como o Gênesis registra o primeiro olhar do homem para o céu, o Apocalipse relata o derradeiro. “E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já se foram o primeiro céu e a primeira terra, e o mar já não existe” (Apocalipse 21.1). Agora, a contemplação do apóstolo João na ilha de Patmos extrapola o céu, objeto de observação dos astrônomos, e alcança o novo céu. Era a inauguração da meta-astronomia, a visão do céu que está além do humanamente observável. É a revelação de Deus em seu clímax, o verdadeiro e literal Apocalipse.

Esse olhar crepuscular para o céu apontou para o ocaso da ciência, sua limitação e sua finitude. Por paradoxal que pareça, o que os astrônomos hoje chamam de infinito - e o fazem já por reconhecerem a grandiosidade do espaço observável - na verdade é apenas a parte ainda imperscrutável do finito. É na meta-história, na ambiência do kairós, que está o verdadeiro infinito: uma amplitude que se confunde com o próprio Deus.

Por fim, o olhar para o céu será o vislumbrar, sem espelho e sem sombras, do próprio Criador.

Enfim, nesse tempo não serão apenas 100 horas, ou um ano. Tampouco, Astronomia. Será, isto sim, a eternidade sem céu, sem astros e sem estrelas, sem calor e sem espaço sideral. A eternidade olhando Deus face a face. “Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.” ( I Coríntios 13:12).

Na verdade, cada dia é dia de olhar para o céu! Todo dia podemos nos abrir um pouco mais para que Deus nos mostre quão grandes são os seus planos para nós. Para que nos revele a dimensão da eternidade no seu reino e nos permita entender o valor de uma esperança imorredoura no novo céu e na nova terra. Soli Deo Gloria!

LÉCIO DORNAS

Pastor da Igreja Batista Dois de Julho, em Salvador (BA)

lecio-d@terra.com.br


EXTRAÍDO DE: www.ojornalbatista.com.br

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